“Considero o risco de rompimento institucional muito baixo, quase desprezível”.
(Mário Lima, analista político)
A praça dos Três Poderes foi tomada por golpistas no dia 8 de janeiro. Os manifestantes vandalizaram o Planalto, o Congresso e o Supremo. Foram reprimidos, com a detenção de milhares de radicais. Muitos dos acampamentos de bolsonaristas que foram montados em frente aos quarteis acabaram sendo desmobilizados.
Lula fez um pronunciamento duro na sequência, clamando por investigações para descobrir quem estava financiando o movimento, e apontando de antemão culpados, sobretudo no agronegócio. Também se reuniu com representantes dos Três Poderes, além de todos os governadores estaduais, demonstrando união. A situação de segurança já está normalizada em Brasília.
Se já não havia perspectiva de troca de poder antes dos acontecimentos, agora está ainda mais consolidado o mandato presidencial de Lula. O levante foi, contudo, uma clara demonstração do nível de organização e ferocidade da oposição ao novo governo.
Interpretações de que Lula sai com um mandato fortalecido do evento parecem prematuras. O presidente sai de fato mais guarnecido pelas instituições de Estado, mais atentas e dispostas a evitar tentativas de sublevação da ordem constitucional.
Em termos de latitude de ação, todavia, o governo sai mais consciente da divisão política do país que está herdando. Pesquisa da Atlas Intel realizada na sequência dos atos mostra que 37% dos entrevistados se dizem favoráveis a uma intervenção militar que invalide o resultado das eleições, ainda que uma parcela reduzida destes seja favorável a uma ditadura. É uma fatia preocupantemente significativa do eleitorado.
A situação preconiza uma cautela maior nas ações do governo, com menos enfrentamento de outros grupos de interesse. Na política, combate-se um inimigo de cada vez.