Zeitgeist 2022 – Parte 6: Inteligência Artificial e Humanos

Você já imaginou um mundo onde robôs podem realizar tarefas diárias, carros dirigem sozinhos e computadores pensam como seres humanos? Bem, essa realidade está cada vez mais próxima graças à Inteligência Artificial. Neste texto, vamos explorar como a IA está transformando nossa vida cotidiana e as possibilidades futuras que ela oferece.

O parágrafo acima não foi escrito por mim, mas sim por um robô, quando provocado a escrever uma introdução chamativa para um texto sobre a Inteligência Artificial.

A IA é uma tecnologia extraordinariamente interessante, com aplicabilidades diversas. Seu uso e desenvolvimento não se dão sem riscos, no entanto. Em seu livro póstumo publico em 2018, o professor Stephen Hawking já fez o alerta:

“Enquanto o impacto de curto-prazo da IA depende de quem a controlar, o impacto de longo-prazo depende de se ela realmente pode ser controlada”. (Stephen Hawking)

Isso pode soar como ficção científica – mas talvez não seja.

Se compararmos humanos com robôs, nós parecemos bastante desajeitados. Estamos limitados pelo avanço lento da evolução, cujos efeitos levam muitas gerações para se manifestar. Robôs, por outro lado, podem se desenvolver de maneira muito mais veloz. Isso poderia fazer com que uma explosão de inteligência se manifeste, na qual as máquinas excedem a inteligência humana por uma larga distância.

Muitos imaginam que a ameaça da IA deriva da possibilidade de que ela se torne “maligna”. Hawking argumenta que o risco não é uma eventual malícia das máquinas, mas sim sua competência. Basicamente, se a IA se tornar muito competente em cumprir seus objetivos, e os humanos se tornarem um obstáculo, poderemos ter problemas.

“Você provavelmente não é um vilão que odeia formigas e que pisa nelas por maldade, mas se você está desenvolvendo o projeto de uma usina hidroelétrica que precisará inundar uma região povoada por formigueiros, provavelmente não vai ligar muito para as formigas. Vamos evitar colocar a humanidade na posição dessas formigas”. (Hawking novamente)

Mas o que fazer diante dos riscos da Inteligência Artificial? Qualquer esforço no sentido de tentar impedir o desenvolvimento dessa tecnologia parece infrutífero. Dado o inevitável avanço humano, Sam Altman e Elon Musk decidiram criar uma empresa sem fins lucrativos chamada OpenAI. O objetivo dessa empreitada é tentar desenvolver a IA de maneira segura e benéfica para a humanidade, e de forma aberta, concedendo seu uso para o maior número de pessoas possível.

Imagem gerada pelo Dall-E, a partir do texto, em inglês: “inteligência artificial versus humanos, arte digital”

“Sempre há algum risco que ao tentar avançar a tecnologia de IA, podemos acabar criando aquilo com o qual estamos preocupados. [Mas a melhor defesa é] empoderar o maior número possível de pessoas com a IA. Se todos tem acesso à tecnologia, então não existe uma pessoa ou um pequeno grupo de pessoas com acesso exclusivo a ela”. (Elon Musk)

Em 2022, a OpenAI lançou gratuitamente duas funcionalidades: o ChatGPT e o Dall-E 2.

O primeiro trata-se de um robô que consegue conversar e interagir de forma semelhante aos seres humanos, aprendendo a partir de interações e recebendo feedback quando provocado. Ele também parece ser capaz de improvisar, compor letras de músicas, poesias, revisar texto, escrever trabalhos acadêmicos e códigos de programação, entre outras funcionalidades. Basicamente, é um robô que aparenta ter criatividade.

É natural que isso já tenha gerado polêmica. Será que o ChatGPT vai significar o fim dos trabalhos acadêmicos? Por que algum estudante ocupado ou preguiçoso não pediria ao robô para fazer o trabalho por ele, em vez de fazer a pesquisa, resumir os tópicos e listar as fontes?

Um universitário resolveu usar a tecnologia “contra” ela própria, e desenvolveu um algoritmo – um outro robô, digamos – capaz de identificar se um texto foi gerado por máquinas ou humanos. Algo parecido com os softwares criados para identificar plágio em trabalhos acadêmicos, lançados há alguns anos.

“O ChatGPT gerou muito hype e animação, mas como qualquer outra tecnologia, precisamos adotá-lo de forma responsável. Essa foi a maior motivação para a criação do GPTZero”. (Edward Tian, estudante, provavelmente impopular entre os colegas)

Outro aspecto crucial relacionado a esta nova tecnologia é o impacto nos empregos. O ChatGPT parece ser capaz não apenas de desempenhar tarefas que até recentemente requeriam trabalho humano, mas também de realizar funções que exigem formação acadêmica substancial.

É inegável que esses tipos de deslocamento na mão-de-obra já aconteceram múltiplas vezes no passado. No entanto, parece que há algo diferente agora. É a primeira vez que vemos sob “ameaça” parte dos empregos na indústria do conhecimento.

O fato de ser algo diferente não significa que haja motivo para pânico.

“No longo prazo, ganhos de produtividade nas indústrias do conhecimento, como ganhos passados nas indústrias tradicionais, irá tornar a sociedade mais rica e melhorar as nossas vidas no geral. […] Mas no longo prazo, […] alguns de nós podem perder seus empregos ou ganhar muito menos do que esperávamos”. (Paul Krugman, economista, argumentando que eventualmente a sociedade se ajusta, mesmo que acabe havendo desemprego pelo caminho)

Apesar de ser uma ferramenta um pouco agridoce, o ChatGPT “pegou’. Em apenas cinco dias do seu lançamento, já tinha um milhão de usuários.

O segundo lançamento da OpenAI foi o Dall-E 2, um programa de IA que cria imagens a partir de descrições textuais. O nome Dall-E é um portmanteau dos nomes da personagem robô do filme da Pixar, Wall-E, e do artista surrealista espanhol Salvador Dalí.

Na interface disponível, o usuário digita qualquer texto em inglês, descrevendo o que gostaria de gerar, e o modelo cria diversas imagens com semântica compatível a do texto digitado. O modelo é não-determinístico, o que significa que consegue gerar imagens diferentes para o mesmo texto toda vez que for requisitado.

Imagem gerada pelo Dall-E, a partir do texto, em inglês: “foto de um cachorro com óculos de sol como um investidor de ações em frente a uma tela”

“Um modelo deste tipo é absolutamente revolucionário. A tarefa de geração de imagens realistas a partir de texto irá impactar e mudar para sempre diversas áreas, como o design de produtos e a geração de conteúdo visual para os mais diversos fins: reportagens, livros, storyboards, campanhas de marketing, […] Estamos diante de algo fantástico, estou chamando isso de ‘a materialização das ideias’. Conseguir gerar imagens de qualquer coisa que nos venha à cabeça é algo sem precedentes”. (Rodrigo Barros, pesquisador da Escola Politécnica da PUC-RS)

Mas não é só através das ferramentas da OpenAI que a IA vem sendo adotada pelas pessoas. Uma publicação da McKinsey apontou que a adoção de ferramentas de IA mais do que dobrou de 2017 para 2022, e entre 50 a 60% das organizações já usam alguma funcionalidade baseada na inteligência artificial.

Pesquisa da McKinsey, apresentando os casos de uso mais comuns para cada função de negócios em 2022

As empresas também enxergam risco no uso da tecnologia, ainda que não da mesma natureza do que aqueles apontados por Stephen Hawking e Elon Musk. As maiores preocupações das corporações, segundo a consultoria, são relacionadas à cyber-segurança, compliance regulatório, e privacidade e custódia de dados pessoais.

Por fim, como eu não poderia fazer melhor, pedi para o ChatGPT me ajudar. “Escreva a finalização de um texto, concluindo que a inteligência artificial vai impactar a vida de todos os humanos, e que só não sabemos o como”.

“Em resumo, a inteligência artificial é uma tecnologia que está crescendo rapidamente e tem o potencial de mudar significativamente a forma como vivemos. Embora ainda haja incertezas sobre como será essa mudança, é certo que ela terá um impacto em todos os aspectos da nossa vida. É importante que continuemos a estudar e a discutir como podemos utilizar essa tecnologia de forma ética e responsável para beneficiar a humanidade”. (ChatGPT, em suas próprias palavras)

Referências

[1] Stephen Hawking’s final warning for humanity: AI is coming for us (https://www.vox.com/future-perfect/2018/10/16/17978596/stephen-hawking-ai-climate-change-robots-future-universe-earth)

[2] Silicon Valley investors to bankroll artificial-intelligence center (https://www.seattletimes.com/business/technology/silicon-valley-investors-to-bankroll-artificial-intelligence-center/)

[3] Who is Edward Tian? He wants to keep his GPTZero app free for users to take on ChatGPT (https://www.scmp.com/business/article/3206581/who-edward-tian-he-wants-keep-his-gptzero-app-free-users-sniff-out-aigiarists)

[4] Does ChatGPT Mean Robots Are Coming For the Skilled Jobs? (https://www.nytimes.com/2022/12/06/opinion/chatgpt-ai-skilled-jobs-automation.html)

[5] DALL-E 2: sistema revoluciona a geração de imagens e conteúdo visual (https://www.pucrs.br/blog/dall-e-2/)

[6] The state of AI in 2022—and a half decade in review (https://www.mckinsey.com/capabilities/quantumblack/our-insights/the-state-of-ai-in-2022-and-a-half-decade-in-review)

[7] Dall-E 2 (https://labs.openai.com/)

[8] ChatGPT (https://chat.openai.com/chat)

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