Carta Política #317

As eleições do fim de semana transcorreram sem grandes eventos, mas com muitas surpresas que nos levam a algumas conclusões.

 

CONGRESSO FEDERAL

            Olhando para o terço das cadeiras do Senado em disputa e para a Câmara, temos o menor índice de fragmentação política em anos. As reformas políticas que trouxeram a cláusula de barreira e o fim das coligações trouxeram o número efetivo de partidos, um índice matemático que visa medir a fragmentação partidária, para o menor nível desde 2006.

            Os partidos do Centrão, turbinados pelo controle do orçamento, foram extraordinariamente bem. O PL, legenda do Presidente, elegeu 99 deputados, o melhor resultado para um partido desde 1998. A federação PT/PCdoB/PV levou 80 cadeiras, o União Brasil fez 59, e o PP fez 47. Em uma análise fria, a esquerda teve o pior desempenho na Câmara desde a primeira eleição de Lula, em 2002, fazendo cerca de 25% da Casa Baixa.

            O Senado também teve resultados positivos para a direita. Os maiores ganhadores foram o PL (6 cadeiras adicionais), União Brasil (4 cadeiras a mais) e PT e Republicanos (2 cadeiras a mais cada). Cresceram às custas do MDB (-3), Podemos e PSDB (-2 cada).

            Se a esquerda perdeu um pouco de margem no Parlamento, alguns partidos saíram dessas eleições muito menores do que entraram. O PSDB perdeu 9 deputados e 2 senadores, enquanto o Novo passou de 8 para 3 deputados.

            Essas eleições não tiveram como pauta a renovação política. A taxa de renovação foi a segunda menor desde 1998, e muitos dos “novos” eleitos já tinham passado por Brasília em legislaturas anteriores. Foi uma eleição muito pautada pelo uso de recursos locais e pela forte polarização a nível presidencial.

            Quem quer que seja eleito Presidente, lidará com um Congresso mais conservador e mais poderoso do que em pleitos anteriores. Caso Lula seja o eleito, terá que lidar com uma esquerda bastante minoritária e uma oposição bastante fortalecida. O risco de impeachment estará no ar.

GOVERNOS DOS ESTADOS

           Como a pauta eleitoral não foi de renovação, tivemos um alto nível de reeleição nos estados, com doze unidades da federação já resolvendo o pleito no primeiro turno, e poucas eleições parecendo muito competitivas para o segundo turno.

           O Centro-Sul do país votou claramente pelo candidato conservador, apoiado clara ou tacitamente pelo Presidente. O desempenho foi extraordinário para Romeu Zema em Minas Gerais, Claudio Castro no Rio de Janeiro, e Tarcísio de Freitas em São Paulo. Ratinho Junior foi reeleito com a segunda margem mais alta do país no Paraná. Onyx teve um desempenho espetacular no Rio Grande do Sul e terá uma corrida competitiva no Estado. O mesmo se repetiu nos estados do Centro-Oeste.

           No Nordeste, o PT seguiu bastante forte. Levou já no primeiro turno o Ceará, Piauí e o Rio Grande do Norte, e ainda deve levar a Bahia e o Sergipe. O Norte também reelegeu os governadores em quatro estados, sem claro viés ideológico.

PLANALTO

           A onda conservadora que varreu as corridas parlamentares e estaduais também trouxe surpresas nas eleições presidenciais. Com um nível de polarização altíssimo, os candidatos de terceira via foram sufocados pelo voto útil. Ainda assim Lula não conseguiu uma vitória em primeiro turno (faltando pouco mais de 1,5% dos votos válidos), e a diferença com Bolsonaro foi muito mais estreita do que o antecipado, ficando em 5,2%, ou 6,2 milhões de votos.

           Para um presidente incumbente, com apoios já anunciados em quase todo o Centro-Sul do país, existe um caminho claro e competitivo para que Bolsonaro alcance a reeleição. Caso faça desempenhos pouco superiores em Minas, São Paulo e Rio, já empata com a candidatura petista.

            Já Lula precisa defender os seus votos, e ampliar o já amplo arco de alianças do qual dispõe. Provavelmente irá trabalhar também as bases no Centro-Sul do país, apesar de não deter lá – particularmente nos interiores – um desempenho robusto e nem palanques bem estruturados.

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