Carta Política #238

“O presidente da Petrobras disse há poucos dias: ‘eu aumento o preço aqui e não tenho nada a ver com caminhoneiro’. Isso vai ter uma consequência, obviamente”.

(Jair Bolsonaro)

A elevação dos preços do barril de petróleo no mercado internacional colocou mais uma vez em xeque a política de preços da Petrobras. A defasagem acumulada estava alta, e os investidores começaram a questionar o quão livre era de fato a petroleira na definição dos preços. A Petrobras determinou aumentos de preços – já são quatro para a gasolina em 2021.

Mas o controlador continua sendo o governo que, apesar de preferir não utilizar a Petrobras como instrumento de política pública, vem sofrendo pressão por todos os lados. O preço da gasolina e do gás de cozinha afetam em cheio a população mais vulnerável. E o preço elevado do diesel vai consumindo a paciência dos caminhoneiros. A memória da paralização da categoria em 2018, discretamente apoiada por Bolsonaro, segue muito viva no Planalto.

A ameaça velada de Bolsonaro ao presidente da petroleira vem do medo que ele próprio acalenta da perda de apoio popular. Os problemas que ameaçam a popularidade presidencial se avolumaram. As circunstâncias econômicas impuseram uma corrosão da renda do brasileiro, prejudicada pela desvalorização cambial, pela alta da inflação e pelo desemprego.

Uma Petrobras livre de interferências poderia vender suas refinarias por um valor mais alto, enriquecendo a própria União. Perderia também as condições de ditar o preço do combustível na bomba, livrando-se de parte da pressão política. Mas o compromisso liberal claudicante do Presidente, que vacila e recua de suas decisões, confunde o ambiente de negócios e joga um banho de água fria sobre os eventuais interessados em arrematar os ativos à venda.

Por fim, as decisões erráticas do Presidente colocam em questão, mais uma vez, o eventual apoio do governo às necessárias medidas de ajuste fiscal. Incapaz de bancar decisões impopulares nas Estatais, será que Bolsonaro apoiaria de fato medidas de ajuste mais duras, como a Reforma Administrativa?

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