Carta Política #213

“Parece que temos uma faca cravada no olho e estamos preocupados com o cisco”.

(Rogério Marinho, sobre a restrição de Guedes a investimentos públicos)

Em Brasília, parece que as pressões por mais gastos se amontoam por todos os lados. Dentro do governo, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, se alia aos militares. Pede por uma ampliação dos gastos públicos para que se acelere a recuperação da economia, e também para que obras importantes de infraestrutura, como a transposição do Rio São Francisco e obras de saneamento, não sejam paralisadas.

A equipe econômica, responsável por guardar as chaves do Tesouro, decidiu ela mesma encampar o programa de renda mínima, o Renda Brasil. As linhas gerais do programa devem ser anunciadas ainda neste mês. A verdade é que o governo se tornou refém dessas transferências, que devem ter sido essenciais para amortecer a queda na popularidade presidencial.

Talvez o entusiasmo público de Guedes em relação ao Renda Brasil seja evidência do realismo político que se abateu sobre o Tesouro: para além do imenso déficit fiscal que o Brasil terá neste ano, não será possível, politicamente, enfrentar os clamores pelo aumento das despesas. Isso também ilumina a prioridade que vem sendo dada pelo Ministério da Economia e alguns líderes partidários na tramitação da reforma tributária. Sendo cristalino que teremos aumento das despesas, tratemos de arrumar financiamento para elas.

O imposto sobre transações financeiras é péssimo. Por incidir em cascata, distorce a decisão de produção. Desestimula a troca mercantil e estimula a produção interna, o que acaba onerando a economia inteira com estruturas mais ineficientes. Mas entre ele e um descontrole da dívida pública – que, após a pandemia, tomou uma proporção crítica – talvez seja melhor aceitarmos, de uma vez, o retorno da CPMF.

A estratégia de Guedes, que não deve ter perdido seu espírito liberal, talvez seja de impor um imposto conhecidamente ruim para aumentar o apetite por reformas politicamente difíceis de redução de gastos, como a reforma administrativa. Mas entre um retorno da espiral inflacionária e um imposto ruim, a escolha é óbvia.

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