Carta Política #202

“Os senhores, com todo o respeito, têm que chamar o governador e jogar pesado, jogar pesado, porque a questão é séria, é guerra”.

(Bolsonaro, sobre Dória)

Nessa semana, tivemos a exoneração do ministro Nelson Teich, que ficou por menos de um mês no Ministério da Saúde. O desprestígio incorrido nessa semana pelo ex-ministro foi grande, ao descobrir durante coletiva de imprensa que o presidente havia categorizado como essenciais as atividades de academias e salões de beleza. O fato parece ter se somado às discordâncias quanto aos méritos do isolamento social e do uso da cloroquina.

Mas não é só dentro do gabinete que o ambiente está conflagrado. O embate entre o Planalto e os governadores quanto à quarentena, especialmente em São Paulo, continuam a permear o debate público. Muitos estados desafiaram o último decreto do Presidente. Provavelmente, continuaremos a ver um ambiente político bastante conflituoso enquanto a situação persistir.

O Presidente busca novos aliados. Vem se aproximando do Centrão, e até contemporizou com Rodrigo Maia no fim dessa semana. O abraço entre Maia e Bolsonaro não é inédito, e o apoio mútuo dura enquanto parecer conveniente para ambas as partes. O equilíbrio é instável, e a única certeza que temos é que Brasília continuará a produzir emoções.

Já os parlamentares, consternados pela situação, também não querem assumir uma postura passiva diante de um ambiente tão conturbado. Afastados os temores quanto ao projeto de empréstimo compulsório, já devidamente engavetado, o Senado ensaia propostas de tabelar os juros do cartão de crédito e aumentar, mais uma vez, a tributação sobre os bancos. A apreciação dos projetos foi atrasada, mas não sem antes abalar mais uma vez a confiança dos investidores na estabilidade jurídica do país.

No mais, os detalhes dos pacotes de socorro aos setores de transporte aéreo e distribuição de energia devem ser tornados públicos nos próximos dias. Ambos estão sofrendo algum rechaço por parte dos auxiliados, seja pelo tamanho da ajuda oferecida, seja pelos termos pouco amigáveis do empréstimo. O modelo de ajuda às distribuidoras deve ser através de algo como uma “Conta Covid”, nos moldes da conta ACR de 2014.

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