Carta Política #354

“É difícil, mas é preciso colocar essas metas. Se ele conseguir controlar despesa, aumentar arrecadação, teremos uma evolução muito importante, com ele sendo o fiador de uma política econômica estável”.

 (José Berenguer, presidente do Banco XP)

 

            As expectativas de déficit zero para 2024 foram um compromisso estabelecido pelo governo, na forma do ministro Haddad, no fim do 1º trimestre deste ano. Havia naquele momento profunda desconfiança com a política econômica e muita pressão, por parte do PT, para que a regra fiscal fosse mais flexível.

            Desde então, Haddad tornou-se um dos ministros mais fortes na Esplanada. Conforme foi se “empoderando”, partidários mais à esquerda, como Gleisi Hoffman e Mercadante, gradualmente se retiraram de cena. A percepção de um governo desorganizado se dissipou, o mau humor dos mercados se desfez, e a agenda econômica ganhou tração no Parlamento. O Congresso e o Supremo também ajudaram – existia uma percepção entre os parlamentares de que Haddad seria o ministro mais moderado possível, e seu enfraquecimento poderia precipitar sua substituição por alguém mais heterodoxo.

            Hoje, no entanto, existe um desafio. Se avizinha a data-limite (31 de agosto) para a apresentação da LDO, a Câmara está “cozinhando” o projeto do arcabouço fiscal, e a zeragem do déficit no ano que vem parece se tornar cada dia menos provável. Seguir com a aposta sem contar com as receitas acarretaria um risco moral e de credibilidade logo no primeiro ano de vigência do novo arcabouço fiscal. Recuar de um compromisso assumido há menos de cinco meses também seria deletério. A solução óbvia – ajustar pelas despesas – parece ser anátema dentro do partido.

            A solução menos dolorosa, politicamente, parece ser “tratorar”, por cima de um Congresso reticente, um aumento de receitas de R$150 bilhões no ano que vem.

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