Carta Política #330

“Visão de parte do mercado de que Lula poderia fazer um governo pragmático mais inclinado ao centro foi um erro, dado que os sinais de aumento de gastos e sobreposição da responsabilidade social em relação à fiscal já vinham desde antes da eleição”.

(Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor do BCB)

 

                    Críticas à independência do Banco Central. Sugestões de uma meta de inflação mais alta. Reclassificação de despesas como investimentos. Questionamentos quanto à motivação de quem pede responsabilidade fiscal. Os discursos de Lula desde sua vitória nas eleições têm ido na direção oposta à que esperavam aqueles que tinham esperança de uma guinada ao centro, dado o resultado eleitoral apertado.

                   Talvez a atitude do presidente seja intencional. Tendo sido eleito com uma agenda de mais gastos sociais, após seis anos de liberalismo no Planalto, é possível que ele sinta que precise sinalizar mais para a sua base de que não há risco de estelionato eleitoral. A retórica antimercado pode ser mais parte de um discurso político ensaiado, que precisa elencar um “inimigo” contra o qual atirar, do que uma convicção sincera de alguém que entregou superávits sucessivos em dois mandatos. Quem sabe seja possível colocar também nessa conta o alarde com o qual Lula vem contrapondo responsabilidade fiscal e social, como se fossem antagônicas.

                   Pode-se supor, também, que tenham sido essas as circunstâncias que orientaram a escolha de Fernando Haddad como seu ministro da Fazenda. Afinal, caso o jogo que o presidente queira jogar seja de “morde e assopra”, é imperativo que haja plena confiança e capacidade de articulação entre o presidente e seu mais importante representante econômico.

                    Tudo isso, no entanto, é pura especulação. O fato é que a situação de confronto contínuo impõe custos reais ao país, ao manter as taxas de juro e as expectativas de inflação elevadas. Resta especular, portanto, se é possível que o presidente seja convencido de que essa estratégia política pode acabar saindo cara demais.

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