Os americanos (de esquerda) reclamam da interferência dos russos na eleição de 2016. Os brasileiros (de esquerda) reclamam da interferência do WhatsApp na eleição de 2018. O WhatsApp virou o Putin da nossa esquerda.
(Marcos Troyjo)
Faltam duas semanas para o segundo turno, mas o clima é de que Jair Bolsonaro já é presidente eleito. Com ampla vantagem de +/– 20 pontos sobre Fernando Haddad, confirmada por todos os institutos de pesquisas, a situação é virtualmente impossível de ser revertida.
A Folha de São Paulo divulgou matéria na qual sugere que houve abuso do poder econômico por parte da campanha de Jair Bolsonaro, mas sem divulgar provas de sua apuração, numa tentativa de ser a primeira a fazer a divulgação do caso. A acusação se dá em torno da compra de pacotes de disparos de mensagens contra o PT, por parte de alguns empresários como Luciano Hang, da Havan, de forma irregular e sem declaração à Justiça Eleitoral, em prática de “caixa 2”. Os partidos de esquerda se refastelaram na acusação, pedindo prisão dos empresários envolvidos, cassação da chapa do PSL (com base em conhecimento prévio do candidato), e até anulação das eleições.
Parece improvável que uma acusação desta monta, carente da apresentação de provas, resulte em qualquer consequência concreta, ainda mais com o ambiente conflagrado como está. O TSE fará pronunciamento a respeito hoje, as 16h. Parece inequívoco, no entanto, que essa temática será fonte inesgotável de polêmica para os próximos anos. Quando ainda presidente do TSE, o ministro Luiz Fux disse que uma eleição poderia ser anulada caso seu resultado fosse decorrente da disseminação de fake news, com base no argumento de que o voto do eleitor, se influenciado por informações sabidamente inverídicas, não teria sido livre.
Enquanto isso, Rodrigo Maia trabalha para ser reconduzido como presidente da Câmara. Parece difícil. Se conseguir, será resultado de que Bolsonaro conseguiu alguma acomodação com o Centrão que, querendo ou não, permanece ocupando a maior parte das cadeiras. Sua confirmação ou seu apoio por parte do presidente eventualmente eleito significará um início de mandato favorável pela perspectiva da governabilidade. O custo é óbvio: filho de César Maia e presidente atual da Câmara, Rodrigo é fortemente identificado com a continuação da velha política que o capitão foi eleito para derrubar.