Carta Política #433

“Eu, às vezes, pareço que estou andando numa escala rolante, no sentido contrário ao que eu quero ir. E nunca chega o lugar que eu quero ir. Às vezes, parece que estou enxugando [gelo] porque nunca termina de enxugar. A luta para a conquista das coisas que a gente sonha é sempre muito complicada”. (Lula)

 

            Com a desaprovação do governo atingindo os recordes do terceiro mandato de Lula, o Planalto tem minimizado a gravidade da situação. Em declarações nesta semana, o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, atribuiu a queda na popularidade à inflação de alimentos e à alta do câmbio, fatores que, segundo ele, devem melhorar ao longo do ano com a queda do dólar e uma safra agrícola robusta.

            Esse tipo de interpretação é esperado. Quanto mais a opinião pública questiona a viabilidade da reeleição de Lula, maior é o risco de enfraquecimento dos quadros de esquerda nas próximas eleições. Afinal, a força de Lula como puxador de votos em disputas para outros cargos é reconhecida, e o PT já sofreu um desgaste considerável como força política nacional. Sem Lula na cabeça de chapa, o risco é que a bancada da esquerda encolha ainda mais.

             Segundo mapas internos do PT, a oposição conta hoje com 25 senadores que, em nenhuma hipótese, votam com o governo. Desses, 17 disputarão a reeleição. Além disso, partidos de oposição planejam lançar outros 16 candidatos considerados competitivos. Se todos forem eleitos, os senadores de perfil mais opositor poderiam conquistar a maioria da Casa, com 41 cadeiras.

             Um dos objetivos da direita é disciplinar o Supremo Tribunal Federal, por meio do impeachment de algum ministro — o que exige o controle do Senado.

             A tentativa de reeleição de Lula, portanto, não deve ser encarada apenas como um projeto pessoal do presidente. Estará em jogo a perenidade da esquerda no Congresso, o que poderá forçar Lula, ainda que esteja relutante, a disputar mais uma eleição.

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