“A gente sabia que tinha algum descontrole, que tinha denúncia, é claro que todo mundo sabia. E não é de hoje.” (Carlos Lupi, ministro da Previdência)
O Primeiro de Maio foi enterrado pelas circunstâncias. Tradicionalmente um evento político relevante no calendário de Brasília — momento em que eram anunciadas medidas como o reajuste do salário-mínimo, acompanhadas de grandes mobilizações populares —, a data passou em relativo silêncio.
O governo se vê às voltas com o escândalo do INSS. Após a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União deflagrarem uma operação que mira um esquema de fraudes em aposentadorias e pensões, com cobranças indevidas que somam R$ 6,3 bilhões ao longo dos anos, o Planalto não sabe ao certo como reagir.
Por um lado, sofre pressão com o avanço dos pedidos de instalação de uma CPI mista, que pode paralisar os trabalhos legislativos e arrastar o governo para um ciclo prolongado de desgaste. Por outro, se optar por demitir o atual ministro da Previdência, Carlos Lupi, corre o risco de afastar o PDT da base aliada. Se o mantiver, assume politicamente o ônus da crise. O próprio PDT não quer ser rifado: teme perder um ministério de algum peso político e sair ainda menor das eleições de 2026.
A tensão aumentou com a sinalização, nos bastidores, de que Carlos Lupi estaria considerando renunciar. Segundo interlocutores do governo, a medida seria uma tentativa de estancar a crise e preservar o capital político do Planalto. Embora o ministro negue oficialmente a intenção de sair, a pressão pública e interna cresce a cada dia, e sua permanência passou a ser vista mais como um passivo do que um ativo para o governo.
As centrais sindicais também convocaram manifestações pelo fim da escala 6 x 1 em diversas capitais, sobretudo em São Paulo. Os atos, no entanto, estavam visivelmente esvaziados. Antecipando a falta de entusiasmo popular — e machucado pelo fracasso das mobilizações também no ano passado — o presidente preferiu se ausentar.