Carta Política #426

“Golpe tem conspiração com a imprensa, o parlamento, setores do poder Judiciário, setores da economia, fora do Brasil. Forças Armadas em primeiro lugar, sociedade, empresários, agricultores. Aí você começa a gestar um hipotético golpe, nada disso houve”. (Jair Bolsonaro)

 

           Nesta semana, a Primeira Turma do STF decidiu, por unanimidade, receber a denúncia da PGR e tornar réus o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete acusados de integrarem o núcleo central de uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2022. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, votou favoravelmente ao recebimento da denúncia, sendo acompanhado pelos demais integrantes da turma.

            A expectativa agora é que o Supremo avance rumo à condenação de Bolsonaro, o que pode levá-lo à prisão. Vale lembrar que o ex-presidente já está inelegível. Enquanto isso, ele e seu núcleo político tentam manter viva a imagem de liderança popular, convocando manifestações de rua — que, até aqui, têm evidenciado uma adesão mais tímida da população, distante das grandes mobilizações de 2022.

           Se a sina de Bolsonaro torna cada vez mais improvável sua presença no próximo pleito, sua eventual ausência também enfraquece o cenário para uma reeleição de Lula. O presidente atravessa hoje o momento de popularidade mais baixa de todos os seus mandatos e, segundo aliados, já começa a ponderar se vale a pena buscar um novo mandato. Como é amplamente reconhecido que um dos grandes motores da vitória de Lula — pela margem mais estreita desde a redemocratização — foi a rejeição a Bolsonaro, a ausência desse antagonista pode expor o atual presidente a uma derrota constrangedora.

           Dessa forma, começa a ganhar corpo um cenário eleitoral inédito: uma eleição sem Lula, nem Bolsonaro. Esse novo tabuleiro pode abrir espaço para o surgimento de uma liderança fora do eixo da polarização que marcou as últimas disputas. E, com uma população claramente cansada da guerra política permanente, esse alívio pode ser bem-vindo — e até necessário — para que o Brasil reencontre novos horizontes.

Posts Relacionados