Carta Política #342

“Acho que o governo precisa fazer suas autocríticas. Precisa melhorar a sua relação com o Congresso Nacional para a gente poder ajudar também, né? […] Mas o compromisso continua aceso de ser um bloco da base.”.

(Felipe Carreras, líder do maior bloco no Congresso)

 

            Desde a sua série de derrotas no Congresso, mencionada na carta passada, o governo vem se movimentando para conseguir construir uma base aliada mais robusta e confiável. Afinal de contas, o relator do Arcabouço Fiscal está quase pronto para apresentar seu relatório aos parlamentares, e essa é uma batalha que o governo não pode se dar ao luxo de perder. Cláudio Cajado, a quem foi confiada a relatoria do projeto, prometeu apresentação aos líderes na semana que vem.

            Parte da boa relação com os congressistas se apoia na liberação de recursos, parte na indicação para cargos no Executivo. Talvez não seja o suficiente, mas o governo vem se movimentando na direção correta, ao menos em uma dessas frentes: as emendas liberadas em abril foram de menos de R$100 milhões de reais, mas as liberadas neste mês, que não está nem na metade, já somam quase R$1,3 bilhão de reais.

            O “blocão”, maior bloco da Câmara, está no centro das insatisfações. Composto por 173 deputados, do União Brasil, PP, federação PSDB-Cidadania, PDT, PSB, Avante, Solidariedade e Patriota, é ele o fiel da balança na aprovação de projetos de interesse do governo nacional. Seu líder, Felipe Carreras (PSB-PE) vem cobrando maior participação pessoal do presidente Lula na articulação política. Arthur Lira, presidente da Câmara, também não tem economizado nas críticas.

            Parte dessa relação se dá sim pelo caráter mais oposicionista do Congresso eleito. Mas parte se dá pela gradual transferência de poder, ao longo dos últimos mandatos, do Executivo para o Legislativo. O Centrão enamorou-se do exercício do poder, particularmente ao longo da presidência Bolsonaro, e não vai se resignar ao desfavorável equilíbrio de forças vigente na última vez em que Lula ocupou o Planalto.

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