“A minha esperança é que o Lula não leve em conta alterações que estão surgindo no gabinete de transição (…) É como se os líderes do PT que estão no gabinete de transição estivessem lidando com o BNDES da época da Dilma”.
(Maílson da Nóbrega, ex-Ministro da Fazenda)
Nesta semana, Aloizio Mercadante foi indicado como o futuro presidente do BNDES. Mercadante tem um passado longevo no partido: foi um palaciano importante no governo de Dilma Rousseff, comandando diversas pastas de 2011 até o impeachment. Afastado de Lula durante o período, reaproximou-se após a soltura e dedicou-se intensamente durante as eleições e a transição.
Mercadante é, hoje, presidente da fundação Perseu Abramo, think tank do PT. Um conhecido desenvolvimentista, sua ascensão ao comando do banco de fomento suscita muitas dúvidas a respeito de qual será o papel do BNDES na nova gestão. O banco dispõe hoje de amplo espaço no balanço para emprestar mais, e só não o faz porque a taxa na qual empresta é, hoje, muito próxima das taxas de mercado. Mas isso nem sempre foi assim: a mudança foi a troca da TJLP pela TLP, uma taxa próxima do custo de financiamento do Tesouro Nacional. A TLP, novo indexador dos empréstimos do banco, é essencialmente não-subsidiada.
Um retorno do banco ao papel que exercia durante o governo Dilma teria diversas consequências: aumentaria os custos para o Tesouro, que captaria dinheiro a uma taxa mais alto do que a praticada pelo BNDES; reduziria a potência da política monetária, com menor capacidade do Banco Central modular o ritmo de atividade da economia via taxa de juros; e alinharia os incentivos dos empresários para que se voltassem para lobby político, ao invés de para suas próprias operações. Compensaria mais obter o favor de Brasília do que ajustar as operações para que o negócio se tornasse mais lucrativo.
O terceiro mandato de Lula ainda nem começou, mas as semelhanças com a era Dilma já são múltiplas.