“O objetivo é buscar o mais próximo possível de um equilíbrio primário. E olhando para o médio prazo. É um cenário grave, mas não impossível de ser revertido. O ajuste vai ser feito, e a principal sinalização é que em 2024 vamos entrar numa trajetória muito mais confortável.”.
(Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional)
Prorrogação da desoneração de combustíveis, negação do déficit da previdência, revisão da reforma trabalhista, revisão do marco do saneamento, política industrial. Grande parte das declarações dadas pelo presidente, novos ministros e aliados tiveram um tom desenvolvimentista, relembrando o histórico do segundo mandato de Dilma Rousseff. As perspectivas dos agentes econômicos começaram a se deslocar para um desarranjo fiscal, o que vem afetando as expectativas: juros mais altos por mais tempo, câmbio depreciado e atividade em letargia.
Não deve ser do interesse do governo se instalar em meio a uma crise econômica completamente autoprovocada. É possível que os aliados estejam simplesmente se adaptando aos pesos que suas palavras têm nesses cargos de poder – afinal, a maioria deles esteve fora da Esplanada pelos últimos sete anos. A transição do discurso político para o pragmatismo de quem governa se dá pelos custos de fazer declarações impensadas.
Os últimos movimentos do governo corroboram essa hipótese. Lula fez declarações pragmáticas em sua primeira reunião ministerial. Haddad também vêm modulando seu discurso em direção ao realismo econômico, prometendo um déficit, em 2023, substancialmente menor do que o orçado. E seu novo secretário do Tesouro já está falando de equilíbrio primário, reconhecendo que o racionalismo fiscal é condição sine qua non para a redução dos juros. Cumpre lembrar que em nenhum momento, até agora, houve sinal de embate público entre o Banco Central – independente – e o novo governo.
O começo de Lula 3 foi mais turbulento do que o esperado. Uma semana de governo, porém, é tempo curto demais para avaliar a trajetória dos próximos quatro anos.