Carta Política #278

“Ainda temos que avaliar se o crime compensa”.

(Liderança petista, sobre Alckmin como VP de Lula)

            Na semana, e conforme já amplamente antecipado, Geraldo Alckmin anunciou sua desfiliação do PSDB. Apesar do ex-governador paulista ter feito um resultado pífio nas presidenciais de 2018, o movimento é interessante por alguns motivos.

            O primeiro é que não há, hoje, um candidato forte para a sucessão de Dória no Palácio dos Bandeirantes em 2022. Aparentemente, Alckmin ainda considera se candidatar. Não poderia fazê-lo pelo PSDB, dominado que está por Dória, que se comprometeu a apoiar seu vice, Rodrigo Garcia, ao governo do Estado. Alckmin tem forte recall, índice de aprovação elevado, e aparentemente teria um caminho fácil para a conquista de seu quinto mandato à frente de São Paulo. Kassab ofereceu seu partido ao ex-governador.

            O segundo, mais interessante, é a especulação em torno da possibilidade de ocupar a vice-presidência da chapa presidencial de Lula em 2022. Para o ex-presidente, é um movimento interessante: poderia atrair parte do eleitorado tradicional paulista, além de sinalizar de forma “barata” um terceiro mandato sem grandes aventuras. Entregar a vice-presidência a um grão-tucano é menos sensível do que indicar, desde já, um ministro da Fazendo mais ortodoxo. Neste caso, o cenário sucessório ficaria assim: Haddad deixa de disputar o governo do Estado para concorrer ao Senado, Alckmin filia-se ao PSB e apoia, junto com o PT, seu antigo vice Márcio França para o Palácio dos Bandeirantes.

            Para Alckmin, ocupar o Jaburu poderia ser tranquilo, mas a decisão de apoiar Lula certamente alienará grande parte de seu eleitorado. O ex-governador jamais cairia nas graças do PT, e seria apenas um vice desprovido de lastro popular. Para Lula e o PT, trazer Alckmin para a chapa certamente alienaria parte da esquerda. Mas o ex-presidente sabe que no frigir dos ovos, e particularmente em 2022, a esquerda não terá coragem de causar grandes dificuldades; particularmente diante da possibilidade de reeleição de Bolsonaro.

            O ano nem começou, mas 2022 já nasce surpreendente. Quem imaginaria que poderíamos ter Alckmin, Marcelo Freixo e Tabata Amaral ocupando o mesmo partido?

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