“A questão do voto impresso está tramitando na comissão especial, o resultado da comissão impactará se esse assunto vem ao plenário ou não. Na minha visão, tudo indica que não”. (Arthur Lira)
Falta mais de um ano para as eleições do ano que vem, mas há meses a impressão é que não se fala de outra coisa. Os motivos são diversos, mas o mais premente é a situação atípica na qual se encontra o presidente, na condição de incumbente desejoso de reeleição.
Bolsonaro está em seu pior momento político deste mandato, com a popularidade estável em patamares baixos. Em pesquisa divulgada nessa semana, as simulações de segundo turno indicavam derrota diante de Lula em todas as regiões do país. Até no Sul, mais alinhado a Bolsonaro em 2018, o candidato petista apresenta leve vantagem. No Sudeste, maior colégio eleitoral do país e fundamental para um candidato de direita, a vantagem de Lula é de 18 pontos sobre o presidente.
Esses números são ruins para incumbentes, apesar de sempre existir espaço para recuperação. As pesquisas do ano anterior à reeleição de Lula mostram que, em seu pior momento, ele perdia de José Serra em um segundo turno por 7 pontos. Em fevereiro do ano seguinte, no entanto, a liderança do petista já estava recuperada.
O Centrão não tem muito a perder embarcando no projeto de reeleição do presidente. Irá conseguir mais espaço e poder ao longo da quase metade de mandato presidencial até o próximo pleito, e caso a reeleição venha a acontecer, estará em excelente posição em 2023. Caso Bolsonaro seja derrotado, não se furtará a apoiar quem quer que seja o vencedor. Além disso, ainda pode vir a suprimir o poder da caneta presidencial, caso aprove o semipresidencialismo a partir das eleições seguintes.
O presidente parece agir para reverter sua sorte. O convite a Ciro Nogueira, os ataques à urna eletrônica, e algumas medidas mais populares – como o vale-gás e o aumento do bolsa família – se inserem nesse contexto. Para os mercados, o risco de que um presidente ameaçado sacrifique a frágil posição fiscal do governo para se reeleger está sempre presente.