“João Doria não tem plano B, só tem plano A, que é disputar a Presidência”. (Cesar Gontijo, tesoureiro do PSDB)
A terceira via, debatida tão intensamente após a viabilização da candidatura de Lula no pleito do ano que vem, ainda não tem candidato. É esse vácuo que o governador de São Paulo tenta, a todo custo, preencher.
Doria soube construir sua imagem de forma hábil, e manejou as forças partidárias a seu favor com destreza. Sua ascensão foi meteórica – antes das eleições de 2016, não dispunha de capital político, e foi na base da força bruta que defenestrou Andrea Matarazzo do PSDB. Surfou o fervor bolsonarista em 2018 e logo abandonou o presidente, ocupando o Palácio dos Bandeirantes mas já de olho no Planalto. Ao identificar o flanco aberto por Bolsonaro na questão da vacina, tomou uma atitude arriscada, mas vencedora. O protagonismo na importação da Coronavac o credencia como “João Vacinador” e pode servir como trunfo na disputa nacional.
Seu nome ainda é visto com muito ceticismo: o perfil “arrumadinho” pode ser ineficaz na arena nacional, e até mesmo em São Paulo sua imagem é arranhada pela percepção de deslealdade. Pudera: abandonou o mandato de prefeito pela metade, abandonou seu padrinho político, Geraldo Alckmin; e rapidamente tornou-se opositor a Bolsonaro.
Doria inspira desconfiança até mesmo dentro do próprio PSDB: concorre pela candidatura com outros nomes de projeção nacional, como Eduardo Leite (RS), Tasso Jereissati (CE) e Arthur Virgílio (AM). Também tem oposição de parlamentares que, apegados à sua fatia do fundo eleitoral, não querem nem que os tucanos disputem a presidência. O governador paulista perdeu, nessa semana, uma disputa interna na definição de como serão as prévias do partido.
No entanto, Doria é um adversário formidável. Já provou sua capacidade de impor sua vontade ao restante do partido, e costura a sucessão paulista: deseja que ocupe o governo o recém-tucano Rodrigo Garcia, egresso do DEM. E é justamente por isso que, dentre os adversários, é o que parece evocar o maior desprezo por parte do Presidente, que não perde nenhuma oportunidade de ataca-lo.