“A ideia de furar teto existe, é só um debate, qual é o problema? ”.
(Bolsonaro)
A semana trouxe duas importantes defecções na equipe econômica: Salim Mattar, responsável pelas privatizações, e Paulo Uebel, secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital. O ministro Paulo Guedes, ao comentar as saídas, definiu o movimento como uma “debandada” em virtude da insatisfação de ambos com o ritmo da desestatização e outras reformas liberais. Os dois se somam a Caio Megale (da Fazenda), Rubem Novaes (do Banco do Brasil), e Mansueto Almeida (do Tesouro) – todos no espaço de dois meses.
Surgiu então uma especulação a respeito do compromisso fiscalista e liberal do governo. Sabe-se que existe entre os ministros fora da equipe econômica e principalmente no Congresso um viés desenvolvimentista, de se utilizar de política fiscal para impulsionar o crescimento econômico. No ambiente de crise atual, as justificativas para que se flexibilize o teto de gastos para o ano que vem se amontoam. Algum tipo de ampliação dos programas de transferência do governo já é praticamente certo.
Nesse contexto, o Presidente deu uma declaração de compromisso com o teto de gastos, acompanhado pelos presidentes da Câmara e do Senado. Foi um discurso rápido. Mas saber que a discussão existe e é considerada gera desconfiança.
A aprovação do governo Bolsonaro bateu recorde histórico nesta semana. O Datafolha reportou que 37% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom, de 32% da pesquisa anterior. O presidente também teve queda acentuada na sua rejeição, de 44% para 34%. É razoável imaginar que a recuperação da popularidade presidencial tenha se dado pelo desembolso do auxílio-emergencial e dos outros programas extraordinários do governo.
O Congresso olha para as eleições municipais que ocorrerão em alguns meses. O Planalto olha para a popularidade de Bolsonaro, que apresenta forte recuperação. Todos eles olham para os cofres do Tesouro Nacional. Já para o teto dos gastos parece que olha apenas um isolado Paulo Guedes, evangelista liberal de um gabinete desenvolvimentista.