“A cota de sacrifício dos servidores [na pandemia] é não receber reajuste até dezembro de 2021”.
(Bolsonaro)
O presidente convocou, ao longo da semana, reunião com os governadores e os presidentes do Congresso. Buscou dizer que aprovaria o projeto de auxílio aos Estados – uma ajuda de R$ 60 bilhões para compensar as perdas de arrecadação – mas que contava com o apoio de todos para manter seus vetos à possibilidade de reajustes salariais aos servidores públicos.
O tom pacífico do encontro, sem a beligerância observada das últimas vezes entre alguns governadores e Bolsonaro, ajudou a cimentar um sentimento de maior paz. A demora do presidente em sancionar o projeto, com o veto, dá espaço para os muitos reajustes “emergenciais” que vem ocorrendo Brasil afora.
O Congresso também concedeu ao Executivo permissão para que quebre a regra de ouro em 2020, para que o esforço fiscal do governo não resulte em crime de responsabilidade fiscal.
De fato, o consenso é que a situação fiscal do país está sendo tratada como um problema a ser resolvido posteriormente. Mas alguns parlamentares já se antecipam: projetos de aumentos de impostos para mineração e para bancos já foram propostos, e a equipe econômica voltou a ventilar a ideia de uma nova CPMF. O balanço político certamente voltou a favorecer aumentos na carga tributária.
No mais, a pacificação da relação entre Bolsonaro e os demais atores políticos do país surge em um contexto de aprofundamento cada vez maior da vulnerabilidade do mandato presidencial. A crise econômica causada pela pandemia já deveria pressionar a popularidade do presidente, mas as muitas crises que cercam a presidência, precipitadas principalmente pela saída e acusações do ministro Sérgio Moro, tornam o problema ainda maior.
Enquanto essa carta é escrita, a mídia especula a respeito da divulgação do vídeo da reunião ministerial mencionada por Moro em suas acusações, onde o ex-juiz diz que o presidente divulgou sua intenção de trocar pessoas-chave da Polícia Federal para proteger amigos e familiares.
Talvez a aproximação entre o Presidente e parlamentares de Centro tenha sido em antecipação à batalha política que, atualmente, se torna pública. A ver.