“O que nós decidimos? Eu sigo a cartilha de Paulo Guedes na economia. E não é de maneira cega, não. É de maneira consciente e com razão”.
(Bolsonaro)
A Câmara aprovou a PEC do Orçamento de Guerra. Retirou, no entanto, diversas categorias daquelas suscetíveis ao congelamento de salários, como contrapartida exigida dos Estados pelo socorro concedido pela União. O fato de tê-lo feito sob orientação do Planalto, segundo o líder do governo na Câmara, suscitou dúvidas a respeito do capital político do liberalismo de Paulo Guedes dentro do ministério.
Após a demissão de Moro, é notável a intenção do Presidente de reiterar seu apoio firme ao ministro da Economia. Nas últimas semanas, foram diversas as oportunidades nas quais Bolsonaro manifestou seu suporte à agenda liberal patrocinada por Guedes. Mas o apoio parece vacilante quando o governo abandona pilares importantes para a manutenção da âncora fiscal, como ao anunciar o já escamoteado plano pró-Brasil ou apoiar a retirada de contrapartidas fiscalistas por parte dos Estados.
Com o texto aprovado, agora só resta ao governo vetar o dispositivo aprovado pelo Congresso, assumindo o ônus político da decisão mas preservando o fiscalismo; ou aprovar da maneira como veio o projeto, sinalizando afrouxamento fiscal. O temor é que a série de derrotas políticas da equipe econômica acabe agravando tanto a situação que não reste muita alternativa ao ministro senão abandonar o governo. A demissão de Guedes seria mais um baque importante para o parco apoio que resta ao presidente, que enfrenta hoje seu menor nível de popularidade desde a eleição.
No mais, o abraço do Presidente ao Centrão deve estabilizar o governo, afastando temores de saídas mais dramáticas da crise, como um processo de impeachment, pelo menos até que a situação excepcional ao redor da pandemia se acalme. As múltiplas crises na qual o governo se encontra, no entanto, elevam o preço.