Carta Política #435

“O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”. (Lula, em resposta a Trump)

 

          Nesta semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou uma carta ao governo brasileiro. No documento, ele afirma que, diante do tratamento considerado injusto que Jair Bolsonaro vem recebendo da Justiça brasileira, das sanções aplicadas pelo Judiciário às big techs, e do desequilíbrio na balança comercial entre os dois países, os EUA imporão tarifas de 50% sobre a importação de produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.

           Vale destacar que o Brasil registra déficit comercial com os Estados Unidos há muitos anos. Por isso, é evidente que as tarifas anunciadas têm motivação política, e não econômica, assemelhando-se mais a sanções contra o país do que a uma tentativa genuína de corrigir o desequilíbrio comercial.

           A medida, que equivale a uma punição contra todo o país, gera desgaste significativo para a oposição. Eduardo Bolsonaro está residindo nos EUA e celebrou a decisão, como fruto de sua tentativa de influenciar a Casa Branca a intervir no Brasil. Torna-se difícil, portanto, rebater a acusação de que o filho do ex-presidente teria instigado uma sanção internacional como forma de pressionar o Judiciário brasileiro em favor do pai. A já conhecida deferência de Tarcísio ao presidente americano também prejudica sua candidatura.

           Nesse contexto, a iniciativa dos EUA acabou funcionando como um presente para um governo que já se encontrava encurralado. Lula tem adotado uma postura politicamente habilidosa: se apresenta como defensor da soberania brasileira frente a pressões externas, mas evita tomar medidas concretas que possam ser vistas como escalada. O recurso ao sistema de solução de controvérsias da OMC, com nenhuma chance de sucesso no contexto atual, serve como sinal interno de reação. E o Planalto pode explorar uma das poucas vantagens de comandar uma economia relativamente fechada: as sanções, tal como foram anunciadas, não devem provocar impactos econômicos relevantes no curto prazo.

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