Carta Política #427

“O Brasil não vai aceitar imposições unilaterais que prejudiquem a nossa economia. Nós queremos respeito. Vamos usar todas as palavras da diplomacia, mas não vamos abrir mão da soberania”. (Lula)

 

               A decisão dos Estados Unidos de impor novas tarifas reacendeu o debate sobre a fragilidade do comércio global e colocou o governo brasileiro diante de um dilema: responder com firmeza ou preservar o canal de diálogo. Em declaração durante a Cúpula da CELAC, o presidente Lula prometeu recorrer à OMC e cogitou medidas recíprocas, mas admitiu que “ainda não há ação prática” — sinal claro de que Brasília hesita entre o gesto político e o custo econômico.

               Internamente, o diagnóstico é de vulnerabilidade. A equipe econômica calcula os impactos sobre a inflação e o crescimento — que já vinha abaixo das projeções iniciais — enquanto o vice-presidente Geraldo Alckmin tenta articular uma resposta mais técnica: a possível redução da alíquota mínima de importação. A medida, embora tecnicamente defensável, tem gerado controvérsia e encontra resistência entre setores produtivos. Para alguns, essa medida pode aumentar a competitividade da indústria local ao baratear insumos; para outros, é um gesto de fraqueza diante da imposição americana.

              No Congresso, a oposição acusa o governo de passividade, e aliados de Lula tentam resgatar o discurso da soberania nacional como forma de reposicionar o Planalto num tabuleiro internacional cada vez mais instável. A expectativa é de que o Brasil siga apostando na via diplomática — ainda que pressionado a demonstrar força num cenário de crescente protecionismo.

               Lula, de acordo com alguns interlocutores, tem uma predisposição natural a bancar um enfrentamento mais incisivo aos americanos. Enquanto isso pode lhe render dividendos políticos, é uma manobra particularmente arriscada no contexto atual.

              Com isso, a crise das tarifas norte-americanas se transforma também em teste político: para o governo, uma chance de reafirmar protagonismo externo; para o país, um lembrete dos riscos de depender de uma ordem internacional que já não funciona como antes.

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