Carta Política #423

“Acho que, com o tempo, a predominância de Lula e de Bolsonaro vai começar a decantar. Eles sabem que a reprodução da polarização tem fatores benéficos para ambos”. (Alberto Aggio, professor de história política)

 

            Fustigado pela inflação e pelo dólar alto, o governo Lula vem enfrentando um desgaste crescente. A população sente o aperto no bolso, e as pesquisas refletem isso. Hoje mesmo, a AtlasIntel divulgou novos números, mostrando que a popularidade do presidente atingiu seu patamar mais baixo desde o início do mandato.

            Naturalmente, não se espera que o governo fique inerte. Logo após o Carnaval, anunciou medidas para isentar de impostos de importação diversos alimentos, tentando aliviar a pressão sobre os preços. Também fez um aceno aos governadores, convidando-os a reduzir tributos estaduais. A criatividade na formulação de medidas tende a se intensificar caso a deterioração da popularidade persista. Afinal, Lula tem a máquina na mão e não faltam alternativas para tentar reverter a maré desfavorável.

            À medida que a aprovação do presidente cai, aumentam as especulações sobre sua sucessão. Tarcísio de Freitas surge como figura nesse cenário e, não por acaso, será capa da próxima edição da Veja. O governador tem diante de si um dilema: manter-se próximo de seu padrinho político, Jair Bolsonaro — hoje inelegível e às voltas com problemas na Justiça —, ou consolidar uma candidatura presidencial própria, abrindo mão de uma reeleição tranquila ao Palácio dos Bandeirantes. Caso decida abrir espaço para um aliado, Bolsonaro dificilmente o fará sem garantias. A possibilidade cada vez mais concreta de sua prisão torna fundamental para ele que seu sucessor esteja comprometido em trabalhar por sua anistia ou um indulto presidencial.

             Por fora, outros nomes da direita tentam se movimentar. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, já anunciou sua pré-candidatura e chegou a sondar o cantor sertanejo Gusttavo Lima como possível companheiro de chapa — um gesto claramente voltado ao eleitorado conservador. Além disso, há sempre o risco do surgimento repentino de outsiders, como ocorreu nas eleições municipais.

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