“Porque o que eles [mercado] estão fazendo é antecipar as eleições de 2026, trazendo para o presente uma tentativa de desestabilizar o governo”. (Rui Costa, ministro da Casa Civil)
Sob fortes críticas dos participantes do mercado e pressionado pelos novos patamares de câmbio e juros praticados nas mesas de negociação, o governo não dá sinais de recuo. Lula, acompanhado de diversos ministros, fez declarações acusando o mercado de não compreender o pacote de ajuste e reafirmando que foi eleito para implementar essas medidas.
O descompromisso com um ajuste fiscal que estabilize o crescimento acelerado da dívida pública, aliado ao aparente desprezo do governo pelo custo de financiamento do país, tem levado os preços dos ativos a se ajustarem a essa nova realidade, sem perspectivas de alívio no curto prazo.
Alguns ministros, num erro de diagnóstico, responsabilizam o BC pela atual conjuntura e afirmam que, em breve, “um dos nossos” estará no comando da instituição. Essa declaração já coloca em dúvida a independência de Galípolo, que deve ser testada logo menos. Com a inflação em aceleração, alimentada pelo câmbio depreciado e pela economia superaquecida, Galípolo deverá se ver forçado a intensificar o choque de juros, o que certamente terá consequências políticas.
Apesar de apresentar um pacote de ajuste modesto, o governo enfrenta resistência para aprová-lo no Congresso. O Legislativo carrega insatisfações diversas, como a recente decisão do STF que exige maior transparência nas emendas parlamentares. Além disso, há desconforto na Câmara pela articulação do governo em apoio à candidatura de Hugo Motta à presidência da Casa no próximo ano.
Outro ponto de atrito é a resistência de alguns deputados em alterar o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Adicionalmente, o Ministério Público e a Defensoria Pública já iniciaram movimentos no Legislativo para derrubar um dispositivo da PEC que visa eliminar brechas para o pagamento de supersalários no funcionalismo público. Esses fatores aumentam a complexidade do cenário político e colocam em xeque a capacidade do governo de articular suas propostas.