“Quero dizer em alto e bom som: para mim, educação não é gasto; para mim, saúde não é gasto. Veja quanto custa para o país uma pessoa doente, veja quanto custa para o país uma pessoa pendurada no INSS e veja quanto custa uma pessoa saudável”. (Lula, em entrevista)
Haddad e o restante da equipe econômica têm feito esforços para equacionar os problemas estruturais da trajetória fiscal do país. Os técnicos estão preparando uma série de medidas para serem apresentadas ao presidente após as eleições, com o objetivo de ajustar a evolução dos gastos, levando em conta a compressão de despesas imposta pelo novo arcabouço fiscal. No entanto, o presidente resiste. Ao fazer declarações rasas e superficiais e impor barreiras aos estudos de racionalização dos gastos, ele deixa clara sua falta de disposição para agir.
A dinâmica brasileira de reformas do Estado geralmente ocorre de forma consistente. O Executivo propõe um remédio que, inevitavelmente, será impopular para alguns setores, assumindo os custos políticos do projeto. O Congresso, por sua vez, debate e desidrata a proposta, cedendo às pressões dos grupos de interesse. No final, o Executivo aprova o novo regime e colhe os benefícios políticos da reforma.
Na atual configuração anômala de Brasília, o país precisa de reformas. O presidente finge não enxergar isso e sofre o desgaste natural da inação. A equipe econômica apresenta propostas — duras, mas necessárias — mas o Planalto tenta assumir o papel do Congresso, interditando o debate. Dessa forma, espera colher os benefícios de realizar o ajuste, ao mesmo tempo que transfere aos legisladores o custo político.
Com a recusa do Legislativo em assumir o papel de “carrasco”, o que vemos é a situação atual: mais um ano desperdiçado sem reformas, sem avanços, e com os vícios do modelo em crescente evidência. À medida que a antecipada janela eleitoral de 2026 se aproxima, torna-se cada vez mais difícil imaginar que o presidente será convencido a enfrentar os problemas fiscais do Brasil.