“Não está na minha cabeça fazer a reforma ministerial, a não ser que aconteça uma catástrofe que eu tenha que mudar. Mas, por enquanto, o time está jogando melhor que o Corinthians”.
(Lula)
No aniversário de dez anos das jornadas de junho de 2013, fica evidente que nada mudou, e que a política segue sendo pautada pelo toma-lá-dá-cá. Com uma base parlamentar frágil e grande concentração de ministérios nas mãos de partidários, Lula quase viu a sua MP da Esplanada rejeitada pelo Congresso, o que seria a maior derrota política deste mandato. O governo seria forçado a se desfazer de muitos ministérios, em um movimento inédito nesta República.
A hostilidade entre Câmara e Executivo chegou a níveis críticos, e os parlamentares estão ameaçando travar completamente a pauta de interesses do Planalto. As MPs que tratam do Carf e da tributação das Offshores também estão na lista das que podem vir a caducar. Na reorganização ministerial, a Câmara aprovou, mas impôs mudanças na estrutura de governo.
Arthur Lira e seu grupo querem mais espaço dentro do governo. Clamam por uma reforma ministerial, querem substituir os artífices da articulação política, e querem autonomia para empenhar as emendas como desejarem. O governo, do outro lado, quer manter o controle do orçamento e do exercício do poder, através do controle dos ministérios.
A situação é grave, mas mais favorável a Lula do que foi à Dilma. O presidente ainda goza de popularidade e surfa um ambiente econômico resiliente. Além disso, Lula conta com um Senado e STF muito mais simpáticos ao seu mandato. Por fim, pode lançar mão de movimentos para ameaçar o presidente da Câmara, como o fez nas mais recentes investigações deflagradas em Alagoas.
Ainda resta saber que novo equilíbrio resultará deste conflito aberto entre os Poderes. A dinâmica da política brasileira mudou muito desde que Lula passou a faixa para Dilma, no distante janeiro de 2010. Resta saber se o maior expoente da política brasileira moderna ainda é capaz de operar em um ambiente tão mais hostil.