“A compreensão da sociedade sobre o que foi feito vale mais do que uma crítica de uma pessoa. Eu tenho certeza que vai ter sucesso. Tenho certeza que vai ser aprovado, e tenho certeza que a gente vai colher os frutos que foram plantados na nossa proposta [do arcabouço fiscal]”.
(Lula, em reunião ministerial)
Se o mercado levantou diversas críticas à proposta de novo arcabouço fiscal, a esquerda também não a considerou satisfatória. Diversos economistas ligados ao PT criticaram amplamente o projeto, dizendo que ele contrata uma execução fiscal inibidora do crescimento.
O deputado federal Lindbergh Farias deu uma entrevista comparando o novo arcabouço fiscal à tentativa de pacto demoníaco descrita em ‘Grande Sertão: Veredas’, quando Riobaldo tenta vender a própria alma ao diabo e nem recebe resposta. Na alegoria do deputado petista, o diabo seria representado pelo presidente do Banco Central, que se recusa a reduzir os juros.
Não é a primeira vez que o ministro da Fazenda é alvo de “fogo amigo” por parte do partido. Se estava inicialmente exposto – há pouca chance de o projeto prosperar caso seja considerado como um “Plano Haddad” – o presidente resolveu cacifá-lo e chamou a briga para si. Na reunião ministerial marcando os 100 dias do novo governo, Lula prestigiou Haddad, elogiou as propostas e pediu para que o Congresso as aprove.
É provavelmente nesse contexto que está acontecendo a fritura de Haddad, depois da nova polêmica envolvendo a taxação das mercadorias importadas a partir das plataformas chinesas. A tentativa da Fazenda de suprimir a elisão fiscal que ocorre nessas transações recebeu forte rechaço nas mídias sociais e pouca defesa por parte dos influenciadores do governo.
Existe uma expectativa de que o arcabouço seja aprovado ainda neste mês, sem grandes mudanças. A incerteza reside no cacife político com o qual chegará Haddad do outro lado. O PT tem muitas ideias diferentes para povoar o imaginário da política econômica deste governo.
