“Eu acho que é mais uma armação do Moro. Mas vou ser cauteloso, quero ver o que aconteceu”.
(Lula, sobre investigação da Polícia Federal)
Nessa semana, o Ministério da Justiça anunciou uma operação da Polícia Federal que havia desbaratado o plano de uma organização criminosa para assassinar o senador Sérgio Moro e outras autoridades. Em declarações posteriores comentando o assunto, o presidente confessou acreditar que tudo se tratava de uma “armação” do ex-juiz, seu algoz político.
Difícil imaginar quais ganhos pretendia com isso. Foi Flavio Dino, seu ministro da Justiça, quem estava tentando capitalizar politicamente por meio de um gesto estadista e democrático, ao anunciar uma operação em benefício de um adversário político do governo. O que é certo é que a declaração caiu muito mal, tirou o senador Sérgio Moro das sombras, e deu muita munição para a oposição.
O destempero do presidente lança luz sobre a falta de direção e programa do novo governo. Lula foi eleito quase que exclusivamente por uma memória de tempos passados e pelo fato de não ser Bolsonaro. Na pressa de anunciar feitos que contrastem com a gestão anterior, dá espaço para que ministros excessivamente criativos ajam de forma atabalhoada, dando declarações em conflito com outras áreas do governo.
Também age como se tivesse sido eleito com ampla margem de votos, não dá o espaço prometido a aliados, e faz reedição de programas de gestões petistas passadas. Em estilo combativo, questiona decisões já tomadas pelo Congresso e se contrapõe à autoridade monetária. No vácuo de agenda, permite confrontos públicos entre seu partido e o governo constituído.
Em suma, a pressa em conquistar popularidade e a agenda confusa complicam o horizonte e trazem ruídos desnecessários. O maior estelionato eleitoral do recém-nascido governo parece ser a prometida pacificação.