“A indicação do ex-prefeito e ex-ministro da Educação Fernando Haddad para a Fazenda sinaliza a intenção de mediar os naturais conflitos existentes na condução econômica de um país complexo como o Brasil pela via do pragmatismo”.
(Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho de administração do Bradesco)
Lula anunciou hoje parte de seu ministério, e nomeará Fernando Haddad como seu ministro da Fazenda, confirmando as expectativas.
Cabe aqui especular quanto à lógica por trás desta nomeação. Agentes de mercado e da economia real gostariam de um ministro mais pró-mercado, mas a experiência de Joaquim Levy como ministro de Dilma Rousseff deve estar instruindo parte desta escolha. O PT sempre viu Levy como um “neoliberal outsider” e o jogou aos leões. Haddad tem credenciais petistas inquestionáveis, mas pertence a uma ala mais pragmática do partido, de forma que pode dizer ‘não’ aos correligionários com mais credibilidade. Caso o governo opte por alguma austeridade em 2023, ainda que não dê publicidade aos fatos, Haddad seria alguém com mais capacidade de conciliar diferenças.
Além disso, Lula está muito mais desconfiado das pessoas ao seu redor após a prisão. Haddad é uma pessoa de sua confiança, sobretudo após tê-lo substituído na chapa na campanha de 2018. No fim, a política econômica poderá ser ditada pelo próprio presidente.
Finalmente, em um governo que se pretende de coalizão e sem pretensões de reeleição, Lula precisa indicar um sucessor de seu próprio partido. O grande risco para Haddad é que o cargo da Fazenda é um dos mais difíceis da esplanada, e de maior evidência. Uma gestão problemática pode inviabilizar em definitivo a figura do ex-prefeito de São Paulo no futuro. A estratégia é arriscada, mas tem precedentes: ainda que em contexto completamente distinto, foi a partir da cadeira da Fazenda que FHC saltou à presidência da República.