“Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora”. (Lula, em discurso de vitória)
Lula venceu as eleições presidenciais com 50,9% dos votos válidos, com a margem mais estreita da história da democracia moderna brasileira. A distância de pouco mais de dois milhões de votos entre um e outra é prova de como foi uma disputa competitiva.
Em seu discurso da vitória, o presidente-eleito fez questão de demonstrar que tem conhecimento da diferença da situação que o sagrou vencedor desta vez. Foi capaz de cruzar a linha do “metade mais um” dos votos válidos apenas graças ao amplo apoio que obteve entre lideranças que nem sempre estiveram junto ao PT nesta caminhada.
O país que herdará também está amplamente cindido. Multidões foram às ruas nesta semana, acompanhando os caminhoneiros que bloqueavam vias e estradas, para manifestar sua profunda insatisfação com o resultado das eleições. O contexto – um Congresso empoderado e com uma oposição feroz e organizada, o ambiente global desafiador, desafios fiscais importantes, e uma população absolutamente dividida – resultará em um desafio formidável para dar cabo às questões que afligem o Brasil.
Um governo de frente ampla trará desafios similares aos que se impuseram sobre o PMDB, após a redemocratização. Lula já deu passos concretos nesta direção, ao indicar Geraldo Alckmin (PSB) como o emissário central para a transição de governo, dar sinais de que existe um convite para que Meirelles chefie o recriado Ministério da Fazenda, e ao convidar o MDB a indicar nomes para o comitê de transição.
O governo eleito age rápido porque precisa. As pendências do orçamento e da âncora fiscal farão com que o mercado exija, em pouco tempo, alguma direção mais sólida do caminho a percorrer.