Carta Política #310

“Marcos Feliciano tem de mostrar e provar que há perseguição às igrejas evangélicas. Ele é irresponsável e leviano, usando a fé das pessoas para se promover e fazer disputa política”.

(Gleisi Hoffmann)

 

                  O último recenseamento que tivemos no país aconteceu há mais de dez anos. Em 2010, o IBGE apontou que cerca de 22,2% da população do país se declarava evangélica. O último censo ainda levará algum tempo para produzir dados com mais confiança, mas os institutos de pesquisa costumam afirmar que, hoje, cerca de 27% do eleitorado se declara evangélico.

                  É sobretudo neste flanco que o Presidente busca apoio à sua reeleição. O engajamento de Michelle Bolsonaro na campanha é considerado como uma “bomba atômica” em Brasília, dado que, como devota, ela fala a linguagem dos fiéis. Suas palavras – e a deferência e o respeito com os quais o Presidente trata a primeira-dama em público – também ajudam a suavizar a imagem de Bolsonaro entre as mulheres, um público entre o qual o Presidente conta com alta rejeição.

                   A postura de Michelle é um “ativo religioso” entre os evangélicos sobretudo ao se contrapor à Janja, a esposa de Lula. A socióloga não só exala ares de mulher independente, o que acaba lhe aproximando de um feminismo rejeitado por muitas evangélicas, como declara simpatia pública por religiões afro-brasileiras. Neste contexto, não surpreende a escalada de Lu Alckmin para a campanha. A esposa do ex-governador de São Paulo faz um contraponto mais palatável à primeira-dama.

                   A última pesquisa Datafolha, divulgada ontem, aponta que Bolsonaro ampliou sua vantagem sobre Lula no eleitorado evangélico de 10 para 17 pontos. Para deter o avanço do Presidente entre o segmento, o petista tem lançado mão de algumas estratégias. Costurou o apoio de André Janones, deputado federal por Minas Gerais, e evangélico. Janones tem trabalhado para desmentir algumas fake news sobre o PT, sobretudo o último boato, propagado por Marcos Feliciano, de que o ex-presidente pretenderia fechar igrejas.

                   Ninguém quer uma guerra santa no país, como disse Lula em comício recente. A maior politização religiosa deste pleito, no entanto, pode ampliar os riscos de menor tolerância religiosa.

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