Carta Política #287

“Mas eu diria que a vasta maioria da comunidade global está unida em uma visão compartilhada, de que invadir um outro país, tentar tirar parte de seu território, […] certamente não está alinhado com valores globais e, então, acho que o Brasil parece estar do outro lado de onde está a maioria da comunidade global”.

(Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca)

          

 

               Bolsonaro fez, nesta semana, viagem internacional de visita a Moscou e a Budapeste. O momento foi inoportuno: as tensões na fronteira com a Ucrânia e a iminência de uma possível invasão russa ao país vizinho dominaram a atenção global nas últimas semanas. A visita do mandatário brasileiro à Putin, assim como as declarações de que o Brasil é solidário à Rússia, soou como uma provocação aos Estados Unidos. A Casa Branca emitiu uma rara declaração de repúdio à atitude brasileira.

            As ilações da imprensa local, hostil ao governo, foram de que Bolsonaro viajou à Rússia para garantir o apoio cibernético do país à sua tentativa de reeleição. Prova disso seria ter sido acompanhado por Carlos Bolsonaro, o filho responsável pela campanha virtual, em sua viagem.

            A justificativa oficial do governo foi a necessidade de assegurar a oferta russa de fertilizantes, em um momento no qual a oferta global do insumo agrícola está bastante dificultada. O presidente afirmou que a oferta de fertilizantes russos para o país será dobrada, assim como será reativada uma fábrica de produção em Três Lagoas. Alguns ministros também discutiram sobre oportunidades de cooperação para a construção de pequenas centrais nucleares, para robustecer a oferta energética do país.

            A Rússia também pode desfrutar de vantagens na aproximação com o Brasil. Caso venha a avançar sobre a Ucrânia e sofra sanções comerciais, poderia se aproveitar de um relacionamento mais próximo com o país para garantir o funcionamento de sua economia. Além disso, poderia contar eventualmente com um apoio tácito do Brasil, membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU, em questões levantadas por conta de seu comportamento na fronteira com a Europa.

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