“Alguns querem que eu entre lá e degole todo mundo. Ninguém está recuando. Não pode ir para o tudo ou nada. A gente vai arrumando o Brasil devagar”.
(Jair Bolsonaro)
No dia 7 de setembro, o Presidente conclamou seus apoiadores às ruas, e foi atendido. A manifestação popular impressionou pelo volume, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Com as multidões exaltadas, Bolsonaro disse que não respeitaria mais ordens do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Naturalmente, criou-se uma crise institucional. Enquanto o presidente da Câmara, Arthur Lira, respondeu em tom ameno pedindo para todos os Poderes se acalmarem; o presidente do STF, Luiz Fux, fez duras críticas ao discurso do Presidente, afirmando que desrespeitar quaisquer ordens da Corte configuraria crime de responsabilidade, passível de impeachment.
Poucas horas depois, o Presidente recuou em suas ameaças, desapontando parte do eleitorado desejoso de um rompimento institucional. Redigiu, conforme sugerido pelo ex-presidente Michel Temer, uma carta reafirmando seu compromisso com a Constituição e o respeito às prerrogativas dos demais poderes. Também atribuiu suas afirmações contra Moraes ao “calor do momento”.
Do episódio, Bolsonaro parece ter ganhado pouco. Não deve ter angariado votos, mas demonstrou deter grande capacidade de mobilidade política. Protegeu-se, com o volume das ruas, de um processo de impeachment. Mas ficou mais vulnerável diante dos parlamentares, que certamente estão recalculando o preço de apoio ao governo. A parte de sua base que ficou decepcionada com o recuo não deve ter se dispersado, dada a falta de alternativas à direita.
Quanto às reformas, apesar da determinação dos deputados em fazerem os projetos avançarem, o ambiente no Senado fica cada vez mais hostil ao governo. Até mesmo antes dos atos a base aliada na Casa não estava bem articulada. Com Rodrigo Pacheco namorando uma candidatura presidencial e o andar da CPI da Covid, o ambiente parece pedregoso. O projeto mais consensual entre as Casas, que deve ter resolução nos próximos meses, é o de uma solução para os precatórios.