“Não é a ferro e fogo que está se buscando uma aliança eleitoral. É possível [o PT estar em dois palanques no Rio]. Temos uma eleição em dois turnos. Não precisa estarem todos no mesmo palanque no primeiro turno”. (Gleisi Hoffman, presidente do PT nacional)
Pesquisa XP/Ipespe executada ao longo desta semana aponta um quadro difícil para o governo. De outubro para cá, os que consideram a administração federal ruim ou péssima aumentaram continuamente, saltando de 31% para 50% – o pior número desde a eleição. A simulação de segundo turno também vem piorando desde a entrada de Lula: a última simulação dá uma vantagem de 9 pontos percentuais para o pré-candidato petista.
Tudo indica que a popularidade do governo federal deve se recuperar, dado que na ausência de um grande choque, a conjuntura econômica tende a se tornar mais favorável ao longo dos próximos meses. No entanto, o governo Bolsonaro está fragilizado, e irá se contrapor a um candidato muito competitivo. O ex-presidente Lula conta com recall quase absoluto, e distância suficiente da era Dilma e dos escândalos em seu próprio governo para que a percepção a respeito de seu tempo no Planalto não esteja tão contaminada.
É nesse contexto que se desenha a atitude agregadora do ex-presidente, que vem avançando em direção ao Centro. Tenta ocupar o espaço que poderia ser capturado por uma “terceira via”, e agregar nele próprio toda a rejeição ao bolsonarismo. Lula foi visto com lideranças do PSB, que conta com uma base nacional formidável, e já está influenciando na política do Rio de Janeiro ao endossar discretamente a candidatura de Marcelo Freixo, egresso do PSOL. Há rumores de que o PT estaria até mesmo namorando o MDB de Michel Temer, para o desgosto dos partidários de Dilma dentro do partido.
Lula parece ensaiar, portanto, uma investida ao Planalto muito parecida com a sua primeira: amplos gestos ao Centro, com rechaços às esquerdas mais radicais e acenos ao mercado. Seu grande desafio será vencer o fervor antipetista no Sudeste.