“O que está acontecendo hoje no Amazonas é algo extraordinário, resultado de uma mutação do vírus, que está sendo estudada. Há indícios de uma infecção muito veloz. É um vírus que se propaga com muita rapidez”.
(Wilson Lima, governador do Amazonas)
A semana foi bastante difícil para o governo. Economicamente, o contexto já não era bom. O anúncio da saída da Ford do Brasil, e a destruição de milhares de empregos decorrente dela, já foi bastante negativo. O plano de reestruturação do Banco do Brasil, divulgado na sequência pela nova administração do banco, gerou ainda mais ruído em Brasília e quase custou o cargo de André Brandão, o CEO que tem menos de seis meses no cargo.
Toda essa conjunção de notícias econômicas negativas foi amplificada pelo colapso do sistema de saúde de Manaus, onde passou a faltar oxigênio para alimentar os respiradores de pacientes críticos de Covid. A capital amazonense foi um dos primeiros focos do Brasil na primeira onda da pandemia. Em colapso na segunda onda, o grande temor é que seja o prenúncio de mais tragédias em outras regiões do país.
A falta de pressa e de clareza do governo quanto ao plano de imunização, além da pressão exercida por Bolsonaro desde o início pela reabertura da economia, contribui para uma deterioração do prestígio do governo e faz o Planalto sentir que precisa reagir rapidamente.
Para além da tragédia humana, caso a situação da pandemia piore demais no país, a pressão pela renovação do auxílio-emergencial pode se tornar irresistível. O número de novos casos de coronavírus já está renovando os recordes anteriores: é provável que outras regiões sigam o exemplo de Belo Horizonte e anunciem restrições severas, o que pode voltar a deprimir bastante a atividade econômica.
Politicamente, quem pode vir a se beneficiar do contexto é João Dória, governador de São Paulo. Apesar da comunicação desordenada, o tucano tem condições de apresentar uma vacina produzida em São Paulo e de criticar a resposta lenta do governo à crise sanitária.