“O casamento entre eu e Mourão é até 2022, no mínimo; até lá, vamos ter que dormir juntos”.
(Jair Bolsonaro)
A intriga palaciana entre Carlos Bolsonaro e o vice-presidente marcou a semana. Após diversas críticas públicas, Mourão apareceu ao lado do presidente no café da manhã com os jornalistas, usando metáforas de matrimônio para dissipar a crise. Supõe-se que o afastamento tenha ocorrido na medida em que avançou o conflito entre a ala militar e a ala mais ideológica do governo, especialmente após Bolsonaro desautorizar a Olavo de Carvalho. Por ora, a temperatura voltou a esfriar. Se o objetivo for gerar diversionismo, o governo vem atuando de forma impecável.
No mais, finalmente foi aprovada na CCJ a Reforma da Previdência, e já ontem foi instalada a Comissão Especial. Ao contrário das expectativas, será presidida pelo deputado Marcelo Ramos (PR-AM), com Samuel Moreira (PSDB-SP) sendo designado como relator. Assim como Eduardo Cury (PSDB-SP), Moreira também tem convicção na reforma, e foi o único dos 50 deputados tucanos a votar contra a derrubada do veto de Dilma Rousseff ao fim do fator previdenciário em 2015. Já Ramos é mais inexperiente e menos convicto, mas espera-se que conduza os trabalhos com mais celeridade do que faria o anteriormente cotado para a presidência, Mauro Benevides (PDT-CE).
A comissão terá 59 membros. Algumas consultorias políticas colocam como favoráveis 35 dos deputados apontados – segundo o líder do governo, Major Vitor Hugo, o Planalto contabiliza 36 votos favoráveis. De toda forma, apesar de ser nessa comissão que a reforma provavelmente sofrerá a maior parte da diluição, ela deveria ser aprovada com facilidade, em até 40 sessões. As expectativas para primeiro voto em plenário estão agora em agosto, e Cury espera algo em torno de 800 a 900 bilhões de reais de economia em dez anos.
De fato, parece que a capacidade do governo de construir sua base vem melhorando. Em suas declarações públicas, Bolsonaro vem elogiando as lideranças partidárias, e sobram afagos ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Talvez a ruidosa batalha na CCJ tenha ajudado o Planalto a entender melhor como conseguir trazer os parlamentares para o seu entorno. Certamente, a promessa de liberar R$40 milhões em emendas para cada voto favorável não atrapalhou.