“Então, você tem uma direita brasileira que toparia uma espécie de bolsonarismo sem Bolsonaro”.
(Renato Janine, ex-ministro da Educação)
Os protestos que tomaram força no último fim de semana nos Estados Unidos também transbordaram para o Brasil, que segue às voltas com seus próprios problemas de racismo institucional e violência policial. Os manifestantes tomaram as ruas de algumas capitais, sobretudo São Paulo, e houve conflitos com outras pessoas que saíram a favor do governo. A polícia interviu, e Bolsonaro pediu para que ativistas a favor de seu governo não tomem as ruas nesse fim de semana, para evitar conflitos.
A tensão política no país aumentou muito desde o início da pandemia. Existem propostas para a articulação de uma frente ampla, envolvendo todo o espectro político, para fazer frente a um autoritarismo percebido em Bolsonaro. No entanto, nem a esquerda sozinha é capaz de se amalgamar em torno de nenhum movimento político. Agregar outros políticos num grupo uniforme, que envolva também o centro e a direita, é praticamente impossível. Não existe uma liderança que centralize a oposição ao presidente, que joga sem aliados, contra praticamente todos os políticos de algum destaque.
A dispersão dessa oposição ideológica, com objetivos muito díspares em eventual day-after, fortalece o governo. E o Planalto continua dispondo das armas do presidencialismo de coalizão – verbas e cargos. A aproximação com o Centro vem se refletindo em vitórias no Congresso. O governo conseguiu fazer aprovar a MP da flexibilização trabalhista, engavetar os projetos de tabelamento de juros no cartão de crédito, entre outros. Os parlamentares, por outro lado, conseguem nomeações em segundo escalão, como diretorias de segundo escalão e superintendências ministeriais.
No mais, Brasília começou a debater a extensão do auxílio emergencial. O governo quer reduzir pela metade o valor da ajuda mensal, atualmente em R$600, enquanto o Congresso negocia para manter o valor atual por mais dois ou três meses. A equipe econômica tenta evitar que as verbas empenhadas para fazer frente à crise permaneçam circunscritas a 2020.