“Até o último dia em que eu for presidente, ninguém vai interferir nesse Poder, a não ser por entendimento, por conversa e harmonia.”
(Eunício Oliveira, Presidente do Senado)
As primeiras semanas do pós-eleitoral trouxeram alguma confusão. O presidente eleito parece finalmente se dar conta de que partes de seu discurso entram em conflito aberto com a realidade, o que o força a fazer recuos. A fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio-Ambiente, a questão do imposto único, a mudança da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém – todas são posições que Bolsonaro se viu forçado a repensar. É fruto da inexperiência governamental da nova equipe, mas se for para ocorrer, que ocorram antes da diplomação.
A boa notícia é que a nova equipe tem dado sinais de que pretende manter grande parte da equipe de Michel Temer, bastante técnica e com ampla experiência no Executivo. Ana Paula Vescovi, por exemplo, é cotada para a presidência da Caixa Econômica Federal, enquanto Joaquim Levy pode assumir o BNDES. Além disso, o governo atual tem colaborado amplamente com a equipe de transição.
Enquanto isso, o Congresso se sente pressionado. Uma fala de Guedes de que seria possível “prensar” os parlamentares não caiu bem. O Senado aprovou reajuste salarial para os ministros do STF, de R$34 mil para R$39 mil, uma pauta-bomba com efeito sobre todas as carreiras do Judiciário, por estabelecer o teto salarial constitucional. O presidente do Senado deu entrevista reiterando a independência entre os poderes, e que não aceitaria interferência por parte do Executivo.
Se foi uma manobra para acuar o presidente eleito, pode sair pela culatra. A opinião pública entrou em polvorosa contra o aumento, que contou com oposição por parte de Bolsonaro, e pode cimentar a percepção por parte da população de que ele é, realmente, de fora do establishment político. Aprovar um reajuste no atual momento fiscal do país é de uma irresponsabilidade que beira o surrealismo, e acusa a mesma falta de conexão com a população que custou o cargo de tantos políticos tradicionais, Eunício Oliveira inclusive, em 2018.