Carta Política #411

“…[os anúncios conjuntos demonstram que Haddad] perdeu o debate interno para a Casa Civil e que o governo está mais preocupado em passar para eleitor a mensagem de que não há perda”. (Leal de Barros, economista da ARX)

             Após meses de trabalho, o governo finalmente anunciou o pacote de ajuste fiscal. As propostas, no entanto, ficaram aquém do esperado, ao não incluir mudanças mais profundas em áreas que poderiam gerar impacto econômico significativo. Além disso, as economias previstas para algumas medidas parecem superestimadas. Ainda assim, o pacote não teria sido suficiente para causar uma piora drástica nas expectativas econômicas.

             O problema maior surgiu quando, ao anunciar alguma restrição nas despesas, o governo evitou assumir o custo político das medidas e decidiu incluir no pacote um tema populista e politicamente arriscado: o aumento da isenção do imposto de renda, anunciado através da cadeia nacional de televisão. Embora a proposta tenha sido apresentada com impacto fiscal zero, ao prever a tributação de rendas superiores, sua tramitação no Congresso Nacional é uma incógnita. O histórico sugere que o Legislativo tende a diluir “remédios amargos” e ampliar os benefícios, o que pode comprometer ainda mais o equilíbrio fiscal.

              Essa combinação de medidas populistas e claramente eleitoreiras ofuscou qualquer ganho potencial associado à restrição fiscal anunciada, desencadeando uma crise de confiança nos mercados. O resultado foi uma forte depreciação cambial e quedas generalizadas nos ativos brasileiros.

              A equipe econômica tentou amenizar o discurso, argumentando que o anúncio do aumento da isenção foi uma decisão puramente política e que ajustes adicionais podem ser feitos no futuro. Além disso, enfatizaram que a tramitação do projeto no Congresso pode ser lenta e sofrer alterações pelas lideranças parlamentares. No entanto, o dano à confiança já está feito. Resta saber como o Congresso, de maioria de centro-direita e com poucas sessões restantes no ano, lidará com os projetos de ajuste fiscal e quais mudanças serão feitas no texto final.

Posts Relacionados