“Não acredito que em 2025 ou 2026 nós tenhamos surpresas, o que é ótimo para o Brasil e o mundo. Isso dá um alívio doméstico grande e nos coloca uma responsabilidade de continuar fazendo um trabalho de arrumação de casa para acolher os frutos desses ventos favoráveis”. (Haddad, sobre os juros americanos)
O Banco Central decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros no Brasil. Não é uma escolha popular, mas foi julgada como necessária diante da desancoragem das expectativas futuras de inflação, entre outros fatores.
Além de ser julgada como necessária, a alta foi considerada conveniente. O voto foi chancelado por todos os diretores do Copom, inclusive Gabriel Galípolo, indicado por Lula à presidência do Banco Central a partir de janeiro próximo. Ao votar a favor da alta, o provável substituto de Campos Neto quis afirmar a sua independência em relação ao Planalto.
Da sua parte, o governo decidiu poupar o BC das críticas. O Planalto já internalizou a perspectiva de uma elevação dos juros ao menos até a virada do ano. As críticas serão mantidas, mas de maneira mais distante: restou à Gleisi Hoffmann, presidente do PT, a tarefa de criticar o aperto monetário, ainda que de maneira genérica e sem apontar nomes.
Para o futuro, a esperança do governo é que o início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos acabe contribuindo para que rapidamente também se abra uma janela para a retomada –mais perene e longeva desta vez – do ciclo de cortes também no Brasil.
O risco, como de costume, é o fiscal. As contas públicas parecem permanentemente estressadas, com um governo relutante em cortar gastos de maneira estrutural, e um Congresso reticente em elevar os impostos. O reflexo se dá tanto no câmbio quanto nos juros longos, dificultando o trabalho do Banco Central.