“Se ele mirar a meta mesmo, que é déficit zero, teria de contingenciar mais uns R$ 40 bilhões ao longo do ano. Contudo, se mirar o limite inferior da meta, como vinham fazendo, aí sim precisaria de mais uns R$ 15 bilhões”. (Alexandre Manoel, economista-chefe da Az Quest)
Continua a política de morde-e-assopra do governo. Enquanto Lula dá declarações evasivas a respeito da necessidade de respeito ao arcabouço fiscal e à meta de zerar o déficit fiscal em 2024, Haddad reafirma o compromisso do Executivo com a sanidade orçamentária.
Isto se dá por conta da posição política desconfortável na qual se meteu o governo. Lula não foi eleito com um mandato de arrocho orçamentário. A realidade, por outro lado, se impõe – um eventual descontrole entre receitas e despesas eleva os riscos de depreciação cambial e inflação, que se refletem imediatamente no bolso do eleitor. O presidente veio testando os limites até as últimas semanas, quando recuou diante do avanço do dólar. Isso não significa, no entanto, que ele é politicamente obrigado a tornar a sua rendição pública.
Cumpre, portanto, ao Ministro da Fazenda apaziguar os ânimos. Para evitar mais especulação, Haddad e Tebet adiantaram para esta semana o anúncio do congelamento orçamentário de 2024. Ficam bloqueados outros R$15 bilhões em despesas. De acordo com a previsão dos técnicos do Planejamento, isso é suficiente para que o governo cumpra a banda inferior da meta, cravando um déficit primário de 0,25 pp do PIB.
A grita nos Ministérios foi intensa, porque o corte deverá vir justamente das despesas discricionárias, e em pleno ano eleitoral. Além do mais, é bem provável que mais cortes tenham que ser anunciados até o fim do ano, antes do próximo relatório bimestral de receitas e despesas, a ser divulgado em setembro.