“É só ver a carta [ata] do Copom pra gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram pra sociedade brasileira”.
(Lula, em entrevista)
Juros altos são detratores para o crescimento do país. O custo do capital fica mais caro, as empresas têm mais dificuldade para se financiar, e o ciclo de inadimplência resultante machuca toda a economia, gerando recessão e desemprego. Uma economia em desaceleração também diminui a demanda e os preços, contribuindo para a queda da inflação. Um Banco Central não existe, como o governo atual insinua, para provocar miséria, mas sim para controlar os preços. O Brasil tem amplos motivos em sua história, afinal, para perseguir a estabilidade do poder de compra da moeda.
O governo, compreensivelmente, tem pressa para resolver os problemas do país. Na busca por um bode expiatório para a deterioração econômica recente e vindoura, encontrou em Roberto Campos, aliado do ex-Presidente e primeiro ocupante da cadeira de banqueiro central independente, um alvo perfeito. Talvez desacostumado do exercício do poder, Lula resolveu desferir ataques múltiplos contra o presidente do BC e a autonomia do órgão.
Isso pode até lhe render dividendos políticos, mas o custo para o país advindo da incerteza quanto à autonomia de facto do Banco Central vai custar caro. Ao tomar as rédeas do debate econômico, Lula constrange ao Ministro da Fazenda, entra em rota de embate contra o Congresso que chancelou as mudanças institucionais, e coloca em xeque a capacidade da autoridade monetária agir à revelia dos ciclos políticos. De quanta confiança irá dispor o país caso, nessa conflagração, efetivamente se revise para cima a meta de inflação – um debate absolutamente legítimo, mas que não deveria se reger pela retórica política?
Roberto Campos decidiu ir ao Roda Viva na semana que vem, o que lhe dará oportunidade para explicar sua função à sociedade. Mas precisará ser extraordinariamente habilidoso para conseguir se comunicar sem escapar às suas competências e arranjar ainda mais inimigos.