Carta Política #314

“É uma mistura de mentira com manipulação, grosseira. Na verdade, isso se chama ‘voto inútil’. É transformar a nossa vontade legítima de mudar em um acordo covarde com os nossos medos”.

(Ciro, sobre o voto útil)

 

            Ciro não parece ter caminho para a vitória nas eleições, mas pode ser o fiel da balança. Sendo candidato pelo PDT e tradicionalmente alinhado à esquerda, acaba disputando votos com Lula. Para que se mantenha como força política relevante no pós-2022 precisa demonstrar potência eleitoral nesse pleito, ainda que não ganhe. Por conta disso, Ciro é a maior vítima em potencial do movimento do voto útil.

            Para desbaratar esse movimento, o alvo natural de seus ataques é Lula, e não Bolsonaro. Seu discurso tem sido bastante hostil ao ex-presidente, se recusando a declarar antecipadamente apoio em eventual segundo turno entre o petista e o atual ocupante do Planalto. Caso faça votos o suficiente, também acumula bastante capital político para negociar alguma concessão no segundo turno.

            O perfil do eleitor cirista não é de um voto convictamente esquerdista, mas tende para Lula. Algumas pesquisas indicam que cerca de 40% dos votos iriam para o petista, e 25% para Bolsonaro. Caso os demais candidatos não pontuem muito no primeiro turno e a “terceira via” repouse majoritariamente sobre Ciro, temos aí um desafio importante para a reeleição.

            O pleito atual tem um nível de convicção por parte do eleitor atipicamente alto – talvez por contar com dois ex-presidentes na disputa. Ainda que o eleitor de Ciro não possa ser classificado como de esquerda (e, portanto, inalcançável por Bolsonaro), ele é mais lulista. Desta forma, caso Bolsonaro não saia na frente do PT no primeiro turno, o desafio para que vença o segundo turno é bastante grande. Seu único trunfo seria converter o eleitorado cirista, mas isso parece improvável.

            Ainda que o Sete de Setembro pareça ter sido positivo para o presidente, nem as pesquisas mais favoráveis a ele capturaram uma melhora significativa desde o evento. O tempo parece, portanto, estar se esgotando para que Bolsonaro consiga demonstrar uma virada crível.

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