“Geralmente, benefícios distribuídos diretamente no bolso de eleitores tendem a reduzir o ressentimento destes com o governo. A mera expectativa de que haverá benefícios sociais já começou a gerar efeito sobre as intenções de voto”.
(Felipe Nunes, professor de ciências políticas da UFMG)
Apesar da falta de movimentação nas intenções de voto dos candidatos, comentada na última edição desta carta, algumas pesquisas têm começado a capturar uma mudança na disposição do eleitorado em relação ao governo.
A pesquisa Genial/Quaest vinha mostrando estabilidade na avaliação negativa do governo, que apontava índices de 47% desde abril. O último resultado, no entanto, apontou queda de 4 pontos no índice, puxado principalmente pelos recipientes do Auxílio Brasil (grupo entre o qual a avaliação negativa caiu de 48 para 39 pontos). Entre quem disse que votou em Bolsonaro no 2º turno de 2018, a avaliação negativa também caiu fortemente (de 20 para 12 pontos), enquanto a avaliação positiva subiu de 51 para 57 pontos.
Esse movimento é compatível com as percepções do eleitorado a respeito das questões que afligem ao país. Diminuíram os eleitores que dizem que a economia do Brasil piorou no último ano, de 64 para 56%, e também reduziram aqueles que apontam a economia como o principal dos problemas nacionais, de 44 para 40%.
Toda essa percepção de melhora na conjuntura se reflete em uma queda na rejeição eleitoral ao presidente. O pico do desprezo ao presidente deu-se em novembro de 2021, quando 2/3 dos eleitores não votariam pela reeleição. Esse índice vem caindo consistentemente desde então, atingindo seu menor patamar desde o ano passado na última pesquisa, quando pontuou 55%.
A queda da rejeição também se deu entre os eleitores do presidente no 2º turno de 2018, que são, provavelmente, o eleitor mais propenso a ser reconquistado. O cenário afasta a possibilidade de uma derrota em primeiro turno, e proporciona um ambiente mais favorável à influência da campanha eleitoral, na segunda metade do mês.