“Lamento que houve esse retrocesso no combate à corrupção. Mas não adianta lamentar. O presidente deveria apresentar um projeto de lei ao Congresso para mudar a Constituição e corrigir esse tipo de erro”.
(Moro, sobre julgamento de suspeição pelo STF)
A introdução de Sérgio Moro na corrida presidencial teve resultados surpreendentes. Estreou com intenções de voto acima de 10%, o que o coloca como candidato natural a ocupar o terceiro lugar, conforme a candidatura de Ciro Gomes (PDT) vai perdendo força.
Também se deu em meio a uma conjuntura bastante favorável. O PSDB segue em disputa, após o vexame de não ter conseguido terminar as prévias, e as diferenças aparentemente irreconciliáveis entre as muitas representações do partido. Confuso entre se opor ou apoiar ao Planalto, com conflitos públicos entre Aécio Neves, João Dória, Eduardo Leite, e a saída iminente de Geraldo Alckmin; o partido parece ter perdido a capacidade de encabeçar qualquer tipo de debate nacional.
A filiação do general Santos Cruz ao Podemos também chama a atenção por dois motivos. Sendo oficial de alta patente, empresta à candidatura Moro algum tipo de chancela por parte dos militares. Tendo apoiado ao presidente desde o início, o general também provavelmente tem capacidade de retaliar contra o governo, blindando parcialmente o ex-juiz contra alguns ataques.
Os outros nomes, como Simone Tebet (MDB) e Rodrigo Pacheco (PSD), ainda não tiveram nem chance de ganhar alguma relevância no debate nacional. Mas Mandetta, do recém-criado União Brasil (a junção entre o DEM e o PSL), já recuou e anunciou que se lançará candidato a deputado federal, o que abre espaço para o apoio de um dos maiores partidos da Câmara.
Por fim, é razoável imaginar que a candidatura Moro apenas alienasse os eleitores mais à esquerda e bolsonaristas mais radicais. As pesquisas indicam que sua base atual é majoritariamente composta por eleitores de nível superior e com renda mais alta, que tem mais acesso à informação e maior interesse em política, e mais atentos ao lançamento do voto útil. É naturalmente cedo para afirmar, mas os primeiros sinais dão conta de que há viabilidade, de fato, para Sérgio Moro.