“Esse imposto só entraria se fosse para desonerar (a folha). Talvez nem precise, talvez eu desista dele”.
(Paulo Guedes, sobre o Imposto Digital)
Às vésperas das eleições, o governo não quer mais saber de falar sobre eventuais aumentos de impostos. Assessores do Ministério da Economia dizem que o rechaço público de Guedes ao imposto digital, que seria uma nova CPMF, é da boca para fora. O sonho do ministro de desonerar a folha continua vivo. Mas agora parece ser o momento de recolher as tesouras.
Os interesses do governo de evitar a menção de maldades – como o esperado financiamento do Renda Brasil que, para respeitar o Teto de Gastos, deveria ser feito via substituição de despesas – indicam a grande atenção que Bolsonaro está dando para as prefeituras. O Centrão, casado com o Presidente, quer ganhar muitos eleitores no pleito municipal, às custas dos principais adversários a reeleição presidencial.
Ao centro, o PSDB. O cacife do governador de São Paulo, João Dória, sairá bastante enfraquecido caso não consiga manter Covas à frente da prefeitura da capital paulista. À sua esquerda, Bolsonaro quer enfraquecer ainda mais o PT, ainda bastante forte em algumas regiões do Nordeste. Não foi à toa que fez muitas viagens à região recentemente, e não poupou esforços para finalizar as obras de transposição do Rio São Francisco.
Os vencedores dessa eleição – o Centrão com Bolsonaro, ou seus adversários – definirão o prestígio e a força política do presidente no fim do ano que vem. E seu poder para, se assim o desejar, empreender as reformas fiscais absolutamente fundamentais para colocar as finanças do país em uma trajetória minimamente aceitável.
Por isso o governo sinaliza bondades, sem apontar de onde sairá o dinheiro para financiá-las. Instituiu silêncio absoluto até o fim do segundo turno. Serão um mês e meio de risco, testando a tolerância dos financiadores da dívida pública, em um momento particularmente conturbado pelas eleições americanas. O risco não parece particularmente baixo.