Carta Política #306

“É um episódio extremamente raro de um presidente convocar o corpo diplomático acreditado junto a seu governo para tentar desconstruir a democracia e a Justiça Eleitoral de seu país”.

(Marcos Azambuja, ex-secretário-geral do Itamaraty)

 

               O presidente convocou os embaixadores, nesta semana, para expressar a sua desconfiança com o sistema eleitoral brasileiro. Foi, certamente de acordo com suas próprias expectativas, rechaçado pelo STF, Senado, ex-presidentes do TSE, procuradores federais, diplomatas, servidores da Abin, e até pela Polícia Federal.

                A pouco mais de 70 dias das eleições, Bolsonaro tem plena ciência de que não há maneira de se alterar significativamente o modelo do pleito. Resta a hipótese de que a intenção seja de deslegitimar o processo eleitoral, em consonância com a narrativa que vem empregando desde 2018. Caso vença, pode afirmar que o fez apesar das dificuldades impostas pelo TSE, por conta da força popular. Caso seja derrotado, pode afirmar que o ocorrido se deu por conta de fraude eleitoral. Uma terceira alternativa é de que o aumento da tensão possa favorecer um discurso de adiamento das eleições.

                Já o cenário de derrota nas urnas contempla diversas possibilidades. O fato da apuração dos votos começar pelos estados do Sul contrata uma provável piora dos números para Bolsonaro ao longo do processo de contagem. Um cenário parecido com o da invasão do Capitólio na sequência das eleições americanas não pode ser descartado. Uma transição pacífica e ordeira, no entanto, parece improvável.

                Poderemos ter eventos de instabilidade social conforme nos aproximamos do dia do pleito: manifestações pró-reeleição no dia Sete de Setembro, ou eventos em decorrência da posse de Alexandre de Moraes no dia 16 de agosto. O novo presidente do TSE, de quem o Presidente é publicamente desafeto, tem em suas mãos dois inquéritos sigilosos contra Bolsonaro – um deles, o das fake news.

                 Não parece, por enquanto, que o Presidente teria força para provocar um rompimento institucional caso não aceitasse o resultado das urnas. Sendo, porém, chave para a pacificação; poderia negociar uma saída favorável em troca de não escalar as tensões. A ver.

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