Carta Política #221

“Paulo Guedes continua com 99,9% aí de confiança comigo. Eu deixo 0,1% porque quando eu quero mudar uma coisinha eu digo: ‘PG, não é 100%, não, porra. 0,1% é meu. Qual é? Você quer 100%? Você está muito guloso”.

(Bolsonaro, em live semanal)

A proposta conjunta do Planalto e de alguns líderes parlamentares de financiamento do Renda Cidadã (novo nome para o Renda Brasil), utilizando-se de recursos destinados ao pagamento de precatórios e de parte do dinheiro do Fundeb, foi muito mal recebida pelo mercado.

Ao propor financiá-lo com mais gastos, ao invés de corte de despesas, o sinal foi claro. A vontade política para a criação deste benefício existe. O crescimento da popularidade do presidente em todas as pesquisas de opinião foi muito bem-vindo, e o apoio de Bolsonaro nas eleições municipais poderá ser valioso em algumas corridas municipais. A vontade política de fazer reformas duras, no entanto, inexiste.

A reação foi muito ruim. A percepção de que Brasília está abandonando a responsabilidade fiscal em favor do populismo torna difícil de acreditar em um cenário de convergência da dívida pública. O governo chegou a tentar manter a proposta, mas diante da permanência da forte resistência e da oposição pública de Rodrigo Maia, finalmente recuou. O senador Márcio Bittar deverá atrasar seu relatório sobre a PEC do Pacto Federativo.

A ideia ainda é de que o programa seja aprovado, mas a fonte de seu financiamento talvez seja discutida após as eleições municipais. Especula-se sobre a criação de um novo imposto, a unificação de diversos benefícios, ou de encerrar as deduções de saúde e educação no imposto de renda. O risco é que o calendário fique muito apertado e acabe sendo encontrada apenas uma solução provisória, de qualidade pior.

No fim, fica a percepção de que Paulo Guedes perde cada vez mais prestígio, e que o governo está desorganizado. Sobrou para o presidente reiterar, mais uma vez, sua confiança no Ministro da Economia, que ganha sobrevida. Até quando, ninguém sabe.

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